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Esta eventualidade deixa-se notar no modo como entendeu o trabalho da história da filosofia, que levou a cabo nas introduções aos diversos textos que traduziu, de Platão a Schopenhauer, passando por Aristóteles, Agostinho de Hipona, Berkeley, etc., um extraordinário esforço de divulgação, que teorizou num breve artigo, publicado em 1956, na Revista Ocidente, com o título «Da História da Filosofia». Aí, retoma a ideia de uma história genética vocacionada para compreender regressivamente o progresso que determinou o presente, pelo que só valoriza o «conhecimento de factos e problemas actuais, ligados evolutivamente com a forma com que em tempo anterior eles foram resolvidos», excluindo qualquer interesse na «história externa de sistemas» (OF III, p. 355). Mesmo tratando-se de um domínio particular, em que a problematização teórica avulta, acaba por ficar à vista a tensão entre duas matrizes, que estrutura o seu pensamento sobre a história: uma orientada pela busca de um sentido para o devir, a outra comprometida com as condições contemporâneas do trabalho historiográfico sobre o passado. Em ambas perpassa, contudo, a convicção de que, como pretendia Wundt, ao integrar-se no ser, o conhecimento opera uma transformação na realidade conhecida, pelo que, de alguma forma, o estudo do passado, na sua especificidade, reverteria sempre para a compreensão do presente. Tendo vivido duas guerras mundiais, uma mudança nacional de regime, as vicissitudes da 1.ª República, a instalação de uma ditadura cujo fim não lhe foi dado conhecer, limitado pelas condições impostas à Universidade portuguesa e em polémica com as práticas intelectuais que nela prevaleciam, a irresolução desse dilema constitui, até um certo ponto, um imprevisto penhor de liberdade intelectual. O alcance da sua perspetiva epistemológica, no contexto nacional, reflete-se no modo como influenciou o entendimento historiográfico de académicos como Jorge Borges de Macedo e Vitorino Magalhães Vilhena, enquanto a envergadura intelectual e a camaradagem, sobressalientes na sua personalidade, com que integrava o coletivo dos opositores ao regime ditatorial, deixou a sua marca amistosa em figuras políticas como Mário Soares, como decorre do testemunho que deixou no fecho do volume comemorativo do centenário do seu nascimento. |
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