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Nas três encontra, portanto, versões renovadas do uso do finalismo e do causalismo, duas matrizes explicativas cuja crítica ocupou grande parte da sua produção, por nelas supor uma visão de senso comum supra-histórica, incapaz de superar a tentação de hipostasiar e de ultrapassar os limites do conhecimento possível, determinando um obstáculo epistemológico maior ao desenvolvimento da historiografia científica. Porquanto julga evidente que a condição humana é intrinsecamente histórica, de acordo com a orientação historicista do neokantismo, que também assoma em Historia como Sistema de Ortega y Gasset, o excedente da história-vida, relativamente à história-ciência, afigura-se uma inevitabilidade antropológica, que, do mesmo passo, forma uma condição fundamental do conhecimento histórico. Na medida em que, a seu ver, a historiografia, na base, depende dos vestígios da ação coletiva passada (ponto de partida necessário, nunca suficiente), tem como objeto o conhecimento factual, modo ideal de organizar a informação disponível e construir uma interpretação do mundo realizado, no que este foi, não no que poderia ou deveria ter sido, em si ou na vontade dos homens (etapa de objetivação inultrapassável, sem que, contudo, corresponda ainda ao padrão do conhecimento científico), e visa uma compreensão, propriamente científica, isto é, universal, relacional e funcional do dinamismo temporal, para o que tem inevitavelmente de gerar uma perspetiva construtiva, pois que «par la perspective donc et seulement par elle les faits acquièrent une signification et une valeur» (OF III, p. 286), não há maneira de fazer coincidir esse processo com uma determinação do sistema das causas ou dos fins. A história-vida manifesta-se como ação, isto é, como conjunto de relações entre acontecimentos, pelo que a história-ciência só pode ser construção de sentidos possíveis para conter a indeterminação e a contingência constitutivas, nunca desvelamento de uma ordem prévia, a qual, se existisse, implicaria a negação da historicidade. Como já estabelecia em «Théorie de l’histoire», c’est le monde réalisé et en train de se réaliser toujours qui nous importe et aucunement pas les entités que nous mettons en cause de la réalisation de ce monde» (OF I, p. 213). |
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