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Em «Le sens de l’histoire», já introduzia, por isso, uma graduação entre três tipos de factos, que faz lembrar a divisão em acontecimento, conjuntura e estrutura, vigente no seio dos Annales «On pourrait considérer les faits avérés, singuliers, individuels et épisodiques […], comme des faits du premier degré; les faits du deuxième degré seraient les termes d’une série d’éléments analogues, comme “les découvertes maritimes du seizième siècle»; enfin les faits complexes aux noms évocateurs, comme “renaissance”, “féodalité”, etc., formeraient l’ensemble des “faits du troisième degré”» (OF III, p. 287). Se os primeiros são indispensáveis e com os segundos se começa efetivamente a perspetivar e, logo, a conhecer, só os terceiros oferecem esse recorte relacional complexo, que permite justificar a posteriori, não só a arbitrariedade da seleção, como a aposta no poder epistémico da perspetiva adotada. Atendendo a que, recordamos, se trata de um artigo publicado em 1953, não é de excluir que tenha tido acesso a O Mediterrâneo de Fernand Braudel (1949) ou, pelo menos, a uma sua notícia detalhada. Por fim, essa historiografia, ao centrar-se nas relações, não pode fixar-se na idiossincrasia, seja a da personalidade individual, seja a do coletivo, se este for equiparado a um indivíduo, ou num esquema de oposição entre os dois. Antes, impõe-se entender que «César est le nom anthropomorphique et idolâtre d’un ensemble de faits historiques» (OF III, p. 282), de tal forma que o que releva é o padrão de inteligibilidade obtido pela potenciação dos nexos e das séries. Apesar de ser percetível o rumor do diálogo com múltiplas vozes da historiografia, incluindo algumas suas contemporâneas, levando, inclusive, a uma sucessiva revisão da definição de Wundt da qual partira, parece-nos prevalecer in fine o intuito de dar consistência epistemológica ao projeto kantiano de uma «história do ponto de vista cosmopolita». Este travejamento filosófico da teorização historiográfica, fazendo prevalecer a globalidade, se contribui para firmar a ideia de uma ciência histórica, pode levar, contudo, a que se torne menos visível o reconhecimento do efeito diferenciador dos contextos e das temporalidades, de que a prática da história não saberia alhear-se. |
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