Academia Real das Ciências de Lisboa I 1779-1820 | 1820-1851
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A história marcou presença de relevo nas actividades da Academia Real das Ciências de Lisboa (ACL) desde a sua fundação no final do ano de 1779, quer como objecto específico de estudo, quer como disciplina académica merecedora de enquadramento institucional. No plano inicial dos Estatutos da ACL ficou consignada a distribuição dos seus membros por 3 classes, a saber: Ciências Naturais (também designadas como ciências da observação e dos fenómenos naturais), Ciências Exactas (ou ciências do cálculo) e Literatura (ou ciências morais e belas letras). As duas primeiras classes viriam depois a fundir-se na Classe de Ciências e a terceira classe viria a designar-se de Classe de Letras, divisão que ainda hoje regula a organização interna desta instituição. Na definição das matérias que constituíam objecto de atenção da Classe de Literatura, tomava-se em consideração que “o que de mais próprio e particular um povo possui é a língua que fala e a história do que lhe aconteceu”, pelo que “são por conseguinte a Língua e a História Portuguesa, consideradas em todos os possíveis aspectos e relações, os dois objectos que constituem o que a Academia quis entender por Literatura Portuguesa” (Memórias de Literatura Portuguesa, Tomo I, 1792, p. ii). Reclamando para si esta missão, a ACL procurava, de algum modo, dar continuidade aos propósitos da Academia Real da História Portuguesa, fundada em 1720 sob a égide de D. João V, cuja actividade se foi gradualmente reduzindo a partir de meados do século, extinguindo-se em 1776. A ACL tornou-se, assim, a instituição fulcral para o desenvolvimento de iniciativas de promoção do conhecimento da língua e da história portuguesas, prosseguindo esforços que haviam sido iniciados por outras academias literárias e eruditas, de vida intermitente e efémera, ao longo da 1ª metade do século XVIII. Ao fazer da história matéria da sua competência institucional, a ACL reconstruia um legado que fazia seu, assumindo a plenitude de uma herança intelectual onde emergiam os nomes de Raphael Bluteau, António Caetano de Sousa ou Diogo Barbosa Machado.
Uma das primeiras e principais acções promovidas pela ACL no domínio da história foi o registo e inventário de fontes arquivísticas manuscritas, mediante levantamento sistemático de cartórios e bibliotecas do reino, em busca de documentação inédita ou ameaçada de entrar no esquecimento. Esta missão contou com o empenho directo de um dos fundadores da ACL, o Abade José Correia da Serra, que contribuiu decisivamente para o envolvimento programado e orientações expressamente dadas pela ACL para que se registassem e copiassem documentos dispersos pelos cartórios do reino que fossem considerados relevantes.