Academia Real das Ciências de Lisboa I 1779-1820 | 1820-1851
7 / 11
Os textos curtos mas incisivos de José Correia da Serra, então investido na sua qualidade de secretário da ACL, permitem uma leitura de conjunto sobre o significado global da história que a ACL desejava praticar. O primeiro momento em que expressa o seu ponto de vista sobre a relevância da história é no discurso preliminar ao tomo I da coleção de Memórias Económicas (1789), quando explica que o conhecimento dos recursos e potencialidades produtivas do reino e seus domínios, tendo em vista a melhoria da sua utilização, não exige apenas um conhecimento aprofundado das ciências naturais e exactas que podem contribuir para esse fim, mas também da história que fornece pistas para o entendimento das razões por que se conseguem ou não atingir determinados objectivos. Por palavras suas, não restam dúvidas sobre a missão que cabe aos historiadores: “Toca aos que aprofundam os antigos sucessos fazer este exame, e dar a conhecer o que já nos serviu de proveito, ou de ruína, e as causas, porque crescemos, ou diminuímos em número, em forças, em luzes, em riquezas. O conhecimento do que a nação é, e do que pode ser, pelo que já tem sido, é dos mais úteis para a sua felicidade, e só pode esperar-se dos esforços unidos de um corpo tal, como a Academia” (José Correia da Serra, Discurso Preliminar, Memórias Económicas, Tomo I, 1789, p. 10).
Esta visão sobre a relevância da história para a compreensão do presente, assim como para a definição dos procedimentos de actuação política que se consideram mais ajustados à prossecução de determinados objectivos, é retomada em novo discurso preliminar com que abre a Colecção de Livros Inéditos de História Portuguesa, em 1790. O encadeamento evolutivo de circunstâncias e acontecimentos conferem à história um lugar insubstituível no conhecimento da sociedade. Por isso, para Correia da Serra, “A História de Portugal não é para nós um estudo indiferente, ou de mera curiosidade. (…) As leis que nos governam, as classes de pessoas em que a nação é dividida, os foros, privilégios e obrigações de cada um de nós, a natureza dos bens que possuímos, as formas da administração pública, os usos que seguimos, a língua que falamos, são tudo consequências de sucessos passados, e neles somente podemos achar o conhecimento da sua origem, e a explicação da sua natureza. Se a glória nos não movesse a estudá-los, a necessidade nos obrigara” (José Correia da Serra, Discurso Preliminar, Colecção de Livros Inéditos de História Portuguesa, Tomo I, 1790, p. vii).