Academia Real das Ciências de Lisboa I 1779-1820 | 1820-1851
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De um modo geral, e para o conjunto dos oitos tomos das Memórias de Literatura Portuguesa, existe uma clara dominância de temas históricos, com estudos sobre história civil, eclesiástica e militar, história da língua e literatura, história da magistratura, do direito e da legislação. De salientar também a publicação de diversos apontamentos monográficos e sectoriais com incursões nos domínios da história social, económica e institucional. Muitas das memórias publicadas correspondiam a textos submetidos aos concursos lançados pela própria ACL, visando premiar e reconhecer o mérito de abordagens dedicadas a matérias que a direcção da ACL reputava essenciais para a formação de um conhecimento alargado nos diversos domínios da sua intervenção (ciências naturais, ciências exactas e literatura, esta última subdividida em língua e história). Entre os temas colocados a concurso, que eram objecto de prémio e publicação, os assuntos de âmbito histórico marcavam presença regular, designadamente sobre e evolução da jurisprudência dos morgados, sobre a introdução do direito canónico e do direito romano em Portugal, sobre numismática e história das moedas, sobre a história de pesos e medidas desde a fundação da monarquia, sobre evolução da população desde o tempo das descobertas, sobre a história das enfermidades, etc.
Para além da colecção das Memórias de Literatura Portuguesa, a ACL também publicou obras próprias dos autores mais destacados pela qualidade e pertinência das suas pesquisas históricas, sobretudo no que se refere a fontes e índices de legislação e do direito, nas diferentes áreas da sua aplicação. As obras de Pascoal de Melo Freire, José Anastácio de Figueiredo e João Pedro Ribeiro são merecedoras de ênfase, pela influência duradoura que viriam a exercer.
Em muitos dos autores que colaboraram na produção historiográfica da ACL, regista-se uma preocupação em justificar a necessidade de um novo entendimento do objecto histórico e de uma nova atitude do sujeito que interpreta a ocorrência de factos comprovados pela documentação de arquivo. Tomando como exemplo uma das figuras cimeiras desta geração ilustrada de historiadores da ACL, João Pedro Ribeiro, veja-se o cuidado com que, no prólogo ao primeiro tomo das Dissertações Cronológicas e Críticas (1810), justifica a publicação da sua obra pela necessidade de devolver verdade a falsos documentos fabricados ou a factos históricos deturpados e mal interpretados. Assim, estamos perante um processo de publicação e interpretação de fontes que é fortemente marcado pela motivação de reconstrução heurística e hermenêutica em que os textos e a narrativa que deles é feita se enquadram em propósitos de constituição de uma memória que havia sido deixada ao abandono ou que tinha sido alvo de usurpações indevidas.