Sociedade Portuguesa de História da Civilização 1947-1953?
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A SPHC foi um projecto de institucionalização historiográfica concebido em 1947 por Vitorino Magalhães Godinho, que pretendia introduzir em Portugal os fundamentos teóricos e práticas de investigação que caracterizavam os historiadores que se organizavam em torno da revista Annales e das instituições emergentes no panorama das ciências sociais em França associadas a essa revista. Por razões ainda hoje pouco claras, a SPHC não ultrapassou a fase inicial de projecção e a sua influência na historiografia portuguesa foi por isso muito reduzida. Ainda assim, constituiu um dos raros exemplos de uma tentativa de organização da investigação em história à margem da rede de instituições tuteladas e financiadas pelo Estado Novo e com um claro propósito de renovação dos métodos, temas e perspectivas no estudo do passado.
A história da SPHC é indissociável do percurso académico do seu principal dinamizador, Vitorino Magalhães Godinho. Após a sua saída da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1944 – e depois de alguns anos dedicados à leccionação em cursos particulares, publicação, tradução e edição de obras de história, mas também à participação em movimentos políticos da oposição (Sousa, Vitorino Magalhães Godinho…, 2012) – estabeleceu, a partir de 1946, contactos epistolares com Lucien Febvre e Fernand Braudel por intermédio do hispanista Marcel Bataillon. No ano seguinte e no seguimento desses contactos, conseguiria uma bolsa no Centre National de la Recherche Scientifique, para a obtenção da qual também contribuiu a acção do lusitanista Pierre Hourcade, então director do Institut Français au Portugal (Godinho, Do ofício e da cidadania…, 1990, p. 50).
A chegada de Magalhães Godinho a Paris coincidiu com uma conjuntura favorável à renovação dos estudos históricos em França, com o surgimento de novas instituições de investigação que não estavam dependentes das universidades e que acolhiam investigadores que pretendiam trilhar novos caminhos temáticos e metodológicos (Gemelli, Fernand Braudel, 2005, p. 155; Picard, “Enseignement supérieur et recherche, 2010, pp. 146-148). A instituição que viria a ter mais sucesso foi a VI secção da École Pratique des Hautes Études, fundada em 1947 numa perspectiva interdisciplinar em que a história coexistia com outras disciplinas das ciências sociais.