Sociedade Portuguesa de História da Civilização 1947-1953?
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Aquando da criação da SPHC, a investigação em Portugal passava por uma fase bem distinta da que se verificava em França. Em 1947 tinha-se verificado uma das maiores depurações políticas das universidades portuguesas durante o Estado Novo (27 professores e assistentes universitários), atingindo sobretudo as áreas da matemática, economia, física e engenharia (Rosas e Sizifredo, Depuração política…, 2011). Foi um período de enorme agitação política, alimentada pela esperança da oposição de que com o fim da II Guerra Mundial o Estado Novo poderia ser derrubado.
Magalhães Godinho, ausente em Paris, tinha delegado a nove investigadores a missão de dinamizar a SPHC: Jorge Borges de Macedo, Joel Serrão, Joaquim Barradas de Carvalho, Rui Grácio (que substituiu José de Assis Mafra), Fernandes Martins, Fernando Pinto Loureiro, Armando Castro, António José Saraiva e Óscar Lopes. Entre outros aspectos, tinham em comum a presença, mais ou menos activa, em movimentos políticos e/ou culturais de oposição ao Estado Novo – seis destes sócios fundadores eram ou viriam a ser militantes comunistas (José Neves, Comunismo e nacionalismo…, 2010, p. 311). A oposição ao Estado Novo foi um critério relevante, ainda que não exclusivo, na composição da SPHC. Nas sugestões para novos associados, aspecto fundamental para a viabilidade financeira da SPHC, é possível reconstituir parcialmente muitas das relações pessoais, culturais e políticas destes sócios fundadores e também identificar muitos dos intelectuais críticos do regime.
Magalhães Godinho sugeriu desde logo os historiadores Jaime Cortesão e Veiga Simões – o primeiro exilado no Brasil e o segundo vivendo em Paris após ter sido demitido de funções diplomáticas em 1946 – mas outros nomes iam sendo sugeridos pelos sócios fundadores: Fernando Piteira Santos, Armando Bacelar, Rui Feijó, Flausino Torres, entre outros de conhecida oposição ao Estado Novo e colaboradores frequentes de algumas das principais revistas culturais – O Diabo, extinto em 1940, Seara Nova e Vértice. Esta rede de contactos tinha sido tecida ou reforçada em torno da II Guerra Mundial, marcada em Portugal pela emergência do PCP mas também pela constituição de movimentos frentistas como o MUNAF, MUD e o MUD Juvenil. A criação da SPHC vai beneficiar desta política frentista (José Neves, Comunismo e nacionalismo…, p. 312), que dificilmente poderia ser replicada nas décadas seguintes, não raras vezes pautadas por divergências pessoais e teóricas, emigração, exílio e desmobilização política de muitos destes investigadores que integraram a SPHC.