Sociedade Portuguesa de História da Civilização 1947-1953?
2 / 11
Nessa rede de instituições encontrava-se também a Association pour l’Histoire de la Civilisation, por vezes denominada Société Marc Bloch, em memória do historiador francês fuzilado durante a II Guerra Mundial. Na apresentação do projecto nas páginas dos Annales, figuravam os princípios que seriam também partilhados pela revista e pela VI secção da EPHE: o trabalho em equipas interdisciplinares e a superação dos métodos de investigação tradicionais. No fundo, como se refere nessa apresentação, era o “espírito dos Annales” que estava presente nos objectivos da Société Marc Bloch (Annales E.S.C., vol. 2, n.º1, 1947, p. 2).
Mas não só. Aludia-se também ao objectivo de “propagar o pensamento francês”, o que denota uma estratégia expansionista desde o seu início, através da criação de delegações da Association em diferentes países. A presença do recém-chegado Magalhães Godinho entre os sócios fundadores – onde estiveram Lucien Febvre, Fernand Braudel, Maurice Lombard, Charles Morazé, entre outros - respondia a esse objectivo, sendo-lhe logo proposta a criação de um núcleo português (Godinho, Do ofício…, p. 59). Embora as informações recolhidas sobre a Société Marc Bloch não permitam conhecer o sucesso deste desígnio expansionista, sabe-se, pelo menos, que existiram contactos, já em meados dos anos 60, para a criação de um núcleo em Nápoles (Gemelli, Fernand Braudel, p. 198), desconhecendo-se, no entanto, se existiram outros núcleos estrangeiros para além do projecto português.
Esta estratégia expansionista do “espírito dos Annales” – Magalhães Godinho, na apresentação do projecto português, refere-se também ao “espírito de um Henri Pirenne ou de um Marc Bloch”, uma narrativa sobre a “memória das origens” que se inseria numa estratégia institucional e promocional desenvolvida a partir de meados dos anos 40 (Gemelli, Fernand Braudel, pp. 152-3) - respondia também a necessidades que emanavam dos próprios princípios historiográficos perfilhados nessa altura, nomeadamente a necessidade de alargados horizontes geográficos e cronológicos no estudo do passado, presentes, por exemplo, na obra magna de Fernand Braudel, O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico (1949). Tal exigia um conhecimento cada vez mais detalhado de contextos espácio-temporais diversificados, só possível pelo aprofundamento das relações internacionais de investigadores que partilhariam os dados por si recolhidos e pelo alargamento das redes de investigação.