Sociedade Portuguesa de História da Civilização 1947-1953?
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O proponente do projecto encontrava-se em Paris e parte significativa dos sócios fundadores estavam dispersos por Lisboa, Coimbra, Porto e estrangeiro. Comparativamente, esse problema já se tinha colocado aquando da criação da Academia Portuguesa da História, optando-se então por recomendar que os académicos titulares residissem em Lisboa, uma solução que pretendia precisamente conferir um funcionamento regular da instituição (Torgal, “A história em tempo de ditadura”, 1996, p. 254).
O facto de só se ter conhecimento, no essencial, da correspondência (ou, pelo menos, parte dela) enviada ao secretário da SPHC impossibilita que se possa responder a questões fundamentais sobre esta instituição. Qual foi o motivo para a sua extinção? E se tal se ficou a dever à rejeição do pedido de legalização pelo Governo Civil, como afirmou Magalhães Godinho, qual a argumentação utilizada? Qual o apoio dado pelo Institut Français au Portugal e pela Société Marc Bloch à SPHC? Estas e outras questões só poderão ser respondidas com documentação por ora não disponível publicamente.
Independentemente das respostas a estas questões, o fracasso do projecto repercutiu-se na diminuta influência que os diferentes caminhos trilhados nos Annales tiveram em Portugal até aos anos 70. Para além de alguns historiadores que permaneceram em Portugal, essa influência notou-se sobretudo naqueles que optaram ou tiveram a oportunidade de trabalhar em instituições de investigação francesas, casos de Magalhães Godinho, Joaquim Barradas de Carvalho e José Gentil da Silva, tesoureiro da SPHC e um dos alunos de Magalhães Godinho nos anos 40 que viria a trabalhar com F. Braudel.
As referências à SPHC em ensaios ou memórias sobre a historiografia portuguesa no período do Estado Novo são escassas ou inexistentes. E se tal se explica, em parte, pela pouca importância que veio objectivamente a ter, por outro lado é surpreendente essa ausência, quanto mais não seja pela notoriedade que os Annales vieram a ter em Portugal a partir dos anos 70 e 80. Para além de algumas referências de Magalhães Godinho, vigorou sobretudo o silêncio ou mesmo uma desvalorização da sua importância (Saraiva, Crónicas, 2004, p. 962).