Sociedade Portuguesa de História da Civilização 1947-1953?
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Apesar destas propostas, não parece ter chegado a existir nenhum plano estruturado de investigação para além das linhas orientadoras que foram definidas no art. 1º dos estatutos enviados ao Governo Civil: “A Sociedade Portuguesa de História da Civilização tem por fim cultivar e promover o estudo da história económica, social, da técnica, da cultura e, de maneira geral, de tôda a civilização, bem como o estudo da geografia humana, demografia, economia, sociologia, psicologia social e colectiva, linguística etc. na medida em que estas ciências contribuem para esclarecer o passado do homem e melhor definir a condição humana”.
A correspondência recolhida sobre a SPHC centra-se nos anos de 1947 e 1948. No entanto, ainda em 1951 se encontram referências a este projecto, ano em que Magalhães Godinho informava Fernand Braudel da saída eminente do primeiro número do Bulletin d’Histoire de la Civilisation, solicitando que Braudel, E. Labrousse ou Lucien Febvre escrevessem palavras introdutórias para essa revista patrocinada pelo Institut Français au Portugal. No entanto, em 1953, sairia sim o Bulletin d’Études Historiques, patrocinado por esse instituto, mas sem qualquer referência à SPHC nas suas páginas. Embora se reconhecesse a filiação nos Annales, os colaboradores desse número único do Bulletin não coincidem totalmente com os sócios fundadores da SPHC – apenas surgem os nomes de Joel Serrão, Barradas de Carvalho, Rui Grácio e Borges de Macedo. Por esses motivos, é de admitir a hipótese que o fim da SPHC remonte a 1953.
Nas páginas do Bulletin d’Études Historiques destacava-se a realização um conjunto de conferências de história que tiveram lugar entre 1951-52 nas instalações do IFP. Nelas participou – para além de Magalhães Godinho, Borges de Macedo, Joel Serrão e António José Saraiva – Jaime Cortesão, então de passagem por Portugal após um longo exílio, o que não deixou de ser celebrado pelos meios oposicionistas (Seara Nova, n.os 1270-71, Jan. 1953; Soares, Portugal amordaçado, 1974, p. 47).
Já no final dos anos 80, Magalhães Godinho referiu que as autoridades não só não permitiram a legalização da SPHC, como também pressionaram o IFP para deixar de patrocinar essas conferências (Godinho, Do ofício e da cidadania, p. 59).