Sociedade Portuguesa de História da Civilização 1947-1953?
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Em suma, pode-se afirmar que existiu na SPHC uma política de admissão que, sem abdicar dos princípios que orientavam a sua constituição, abria as portas a novos membros que, pelo seu prestígio ou integração nas instituições de ensino e investigação tuteladas pelo Estado Novo, poderiam ser tidos em conta na decisão a favor da sua legalização. Como refere Armando Castro a Borges de Macedo em Maio de 1948, de forma um tanto velada, “só me parece de aplaudir a decisão de convidar personalidades estrangeiras tanto pela importância que isto se reveste para o processo científico como ainda para dar maior estabilidade à SPHC”.
Por outro lado, há que notar também as ausências, sobretudo a de António Sérgio. Tal deve ter estado sobretudo relacionado com a sua notoriedade como oposicionista ao regime, ainda para mais envolvido de forma activa e pública nos principais movimentos políticos surgidos em torno da II Guerra Mundial, o que poderia dificultar a legalização da SPHC. Mas também convém lembrar que se é verdade que muitos dos fundadores da SPHC viram em Sérgio uma das principais influências filosóficas e cívicas nas suas juventudes, alguns viriam a contestá-lo a vários níveis ainda nos finais dos anos 40 e inícios dos 50. Não só pelas discordâncias teóricas e ideológicas, patentes na polémica iniciada por António José Saraiva na Vértice (n.º 81) em 1950, mas também pelas diferentes interpretações historiográficas (veja-se as críticas que Borges de Macedo lhe dirigiu a propósito da revolução de 1383-85 nas páginas da Seara Nova [n.º 1119] em 1949) ou, ainda, pelas divergências em relação a uma concepção de história que se cingia ao ensaísmo e à pedagogia. Essa crítica foi feita precisamente por um dos seus confessos admiradores, Joel Serrão, que por essa altura (embora viesse posteriormente a valorizar a sua influência) o excluía de uma genealogia dos grandes nomes da historiografia contemporânea porque “acabou por imobilizar-se numa atitude ensaístico-polémica que, por mais fecunda tenha sido, se apresenta, neste momento, aos olhos da geração que entrou nos trinta anos, como esgotada das suas virtualidades «pedagógicas»” (Seara Nova, n.º 1194-5, Nov.-Dez. 1950, p. 370).
Pela investigação desenvolvida em torno da história económica portuguesa, uma das áreas privilegiadas pela SPHC, deve também notar-se a ausência de Virgínia Rau. Curiosamente, já em meados dos anos 50, a historiadora portuguesa haveria de participar nos seminários organizados pela Association pour l’Histoire de la Civilisation de Toulouse, que contaram também com a presença de G. Duby, F. Mauro, J. Vicens, entre outros (Association…, [s.d.]).