Sociedade Portuguesa de História da Civilização 1947-1953?
7 / 11
As afinidades do conjunto de sócios fundadores não resultavam apenas do efervescente contexto político do pós-guerra. Tinham-se em comum uma formação superior em diferentes áreas das ciências sociais nesses primeiros anos da década de 40, quatro dos quais tinham sido alunos de Magalhães Godinho na FLUL. As suas carreiras profissionais eram então instáveis ou marginais às suas ambições de seguir um percurso académico: alguns tinham trabalhos marginais em relação à investigação e ensino, outros eram professores liceais ou viviam da publicação de artigos, traduções e outras actividades ligadas às escassas iniciativas editoriais existentes nos seus meios de sociabilidade. Para além disso, as preocupações financeiras surgiam amiúde na correspondência de alguns desses sócios fundadores. Tinham sido excluídos, ou tinham-se auto-excluído, das instituições estatais de investigação e ensino superior. Por outro lado, as universidades desses anos 40 tiveram um crescimento residual no número de alunos, professores e verbas orçamentais, o que dificultava o prosseguimento de uma carreira universitária para os recém-licenciados e promovia práticas clientelares e de mandarinato nos escassos concursos abertos.
Neste cenário, a notícia da criação da SPHC foi recebida com entusiasmo e esperança, à semelhança do que, no domínio político, se verificava com a possível queda do regime. Na carta de apresentação do projecto, Magalhães Godinho aliciava os seus destinatários com o envio de livros e revistas de França, com a possibilidade de publicação de trabalhos e bolsas de estudo em Paris. Esse entusiasmo é também evidente nas propostas de trabalho que iam sendo sugeridas para discussão. Fernando Pinto Loureiro, por exemplo, propôs, em Abril de 1948, a constituição de uma equipa para redigir uma história abreviada de Portugal; nesse mês, Armando Castro mostrava-se interessado em estudar com outros sócios alguns problemas de história da economia portuguesa que então o interessavam – a formação da classe assalariada e a “transição da economia de tipo feudal para a capitalista”, entre outros temas; Borges de Macedo, na I Assembleia Geral da SPHC, realizada também nesse mês, dá conta de um projecto para o estudo do período do fontismo, embora o considere prematuro dada a existência de tarefas organizativas mais urgentes: angariação de novos sócios ou mecenas; a publicação de um boletim; o local de realização de reuniões; a legalização da sociedade; etc.