Sociedade Portuguesa de História da Civilização 1947-1953?
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Pela análise do seu processo na PIDE, sabe-se que essas conferências eram acompanhadas pela polícia política, com a respectiva identificação dos assistentes e conteúdo das comunicações. Na que Magalhães Godinho apresentou em Outubro de 1951, sobre “História económica e história política”, o agente infiltrado notava a presença de alguns militantes comunistas, bem como críticas à ausência de O Capital e de Marx no seu discurso. Contudo, salientava que essa comunicação tinha sido feita exclusivamente nos domínios científico e erudito, sem quaisquer alusões políticas e ideológicas.
Os sócios fundadores estavam conscientes do perigo que os seus percursos e afinidades políticas representavam para a legalização da SPHC. A estratégia passava não só, como se viu, pelo convite de algumas personalidades de prestígio e conhecidas pela colaboração nas instituições de investigação e ensino tuteladas pelo Estado Novo mas também pela intervenção do IFP e da Société Marc Bloch junto do Governo Civil. Esta era, no entanto, uma estratégia arriscada e de resultado imprevisível. Como notava António José Saraiva a Borges de Macedo em Março de 1947, a dependência de uma sociedade estrangeira (ainda para mais da França do pós-guerra) não era necessariamente garantia de facilitar a legalização da SPHC, preocupação também partilhada por Armando Castro. Nos estatutos enviados ao Governo Civil tomou-se uma posição cautelosa e ambígua que, se não omite a ligação à francesa Société Marc Bloch (art. 4º), indica-se que a SPHC estaria filiada na Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências (art. 5º), instituição responsável pela organização dos periódicos colóquios luso-espanhóis com esse nome. De qualquer forma, a documentação disponível não permite aferir qual o papel desempenhado pelo IFP e pela Société Marc Bloch a favor da legalização da SPHC. Uma carta de Armando Castro a Borges de Macedo de Abril de 1948, sugerindo que se informasse a Société Marc Bloch da situação jurídica e financeira da SPHC, parece indiciar que aquela não estava ao corrente dessas dificuldades ou que reconhecia a sua incapacidade para interceder junto das autoridades portuguesas e de a ajudar financeiramente.
Para além da legalização e das já referidas dificuldades financeiras que levaram a uma campanha de angariação de associados um pouco por todo o país, colocavam-se ainda outros problemas à sobrevivência da SPHC, como o da dispersão geográfica dos sócios (Madeira, “Os novos remexedores da história”, 2007, p. 321). Conforme notou Armando Castro em carta a Borges de Macedo de 5 de Outubro de 1947, um projecto que se queria interdisciplinar e assente no trabalho de equipa exigia a reunião frequente dos seus associados. As poucas reuniões realizadas atestavam essas dificuldades.