Vértice, revista de cultura e arte, Coimbra, 1942-
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Em conclusão, deve-se destacar a importância historiográfica da Vértice num contexto em que os historiadores ligados à oposição ao Estado Novo se encontraram, por regra, afastados das instituições estatais de ensino e investigação. A par de outras revistas e projectos editoriais, a Vértice constituiu-se como um dos espaços privilegiados para a apresentação das ideias e trabalhos de muitos desses historiadores que contribuíram para o aparecimento e consolidação de novas propostas teóricas, metodológicas e conceptuais, muitas delas posteriormente rejeitadas, por vezes pelos próprios. Ainda assim, não deixa de ser significativo que muitos dos historiadores que colaboraram na Vértice viessem a assumir, sobretudo a seguir ao 25 de Abril, lugares de docência no ensino superior da história – casos de Joel Serrão, António José Saraiva, Borges de Macedo, Luís de Albuquerque, Victor de Sá, João Medina, António Hespanha, entre outros.
De realçar também que a análise dos textos de história na Vértice permite questionar o uso, por vezes acrítico ou não explicitado, da categoria analítica “historiografia marxista”. Se é verdade que existem algumas ideias comuns que conferem pertinência ao seu uso, ele não se pode fundamentar apenas na perfilhação político-partidária dos historiadores visados nem tão-pouco nesse conjunto de ideias gerais que adoptavam. Do ponto de vista historiográfico, podem-se assinalar diferenças quanto à interpretação de certos momentos-chave da história de Portugal e também das concepções e usos da história, como se viu. E se as polémicas e debates historiográficos não foram um meio privilegiado para discutir essas diferenças, elas não deixaram de estar presentes, por vezes de forma implícita. Tal como pode ser constatado no debate sobre diferentes concepções artísticas dos intelectuais que se opuseram ao Estado Novo, também na historiografia não houve uma unanimidade teórica e interpretativa.