Vértice, revista de cultura e arte, Coimbra, 1942-
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Esta polémica enquadra-se, como se referiu, num período de graves polémicas e cisões entre alguns colaboradores da Vértice. Ao longo das décadas de 50 e 60, alguns dos mais destacados colaboradores da revista suspendem ou diminuem significativamente a sua presença, muitas vezes em ruptura político-partidária com o ideário marxista-leninista. Entre os historiadores, destacam-se os casos de Borges de Macedo (abandona a sua colaboração em 1955), Joel Serrão e Piteira Santos (ambos em 1957, só regressando esporadicamente muitos anos depois) e António José Saraiva (em 1965). Ainda assim, outros mantiveram a sua colaboração, mais ou menos frequente, casos de Armando Castro, Óscar Lopes e Luís de Albuquerque. A colaboração deste último deve ser realçada pela dedicação à Vértice, publicando aí várias dezenas de artigos, não só sobre história da educação e dos Descobrimentos mas também sobre outros assuntos onde mostrava a amplitude dos seus interesses científicos, culturais e cívicos. Entre 1948 e 1953, desempenhou o cargo de secretário de redacção da revista, contribuindo, sob diversos pseudónimos, para o funcionamento regular da publicação.
A saída dos historiadores acima referidos foi sendo colmatada com a entrada de novos colaboradores. Esta mudança saldou-se numa maior atenção à história portuguesa do século XIX, sobretudo através dos artigos publicados por Flausino Torres e Victor de Sá. Dando continuidade ao interesse pelo oitocentismo português que vinha dos anos 40, começava-se a constituir um conjunto relevante de estudiosos que, segundo Flausino Torres, deveriam reunir-se para a constituição de uma indispensável grande obra colectiva sobre o período contemporâneo português (n.º 209, Fev. 1961, 110). Este interesse renovado pela história contemporânea ocorria num contexto de alterações significativas na sociedade portuguesa, facto que não era omitido por Victor de Sá que o via à luz do “imperativo derivado da crise de consciência cívica de que estamos a dar-nos conta” (n.os 234-6, Mar.-Mai. 1963, 238). Importava, por isso, o conhecimento da estrutura social na qual os intelectuais comunistas pretendiam intervir (José Neves, Comunismo e Nacionalismo…, 2010, 329).