Estas linhas de investigação mantêm-se até aos anos 1960, década em que os estudos de demografia histórica ganham fôlego, sobretudo no âmbito de teses de licenciatura nas universidades portuguesas (Mota, “Teses apresentadas...”, 1997, pp. 402-404), abrindo caminho ao conhecimento das estruturas familiares e, indiretamente, a alguns aspetos que tocam a história das mulheres. A partir da recolha e tratamento de dados dos registos paroquiais e de listas nominativas, analisam-se os comportamentos demográficos (a nupcialidade, a natalidade, a mortalidade), apuram-se as taxas de fecundidade ou as tipologias de grupos domésticos, entre outras temáticas, destacando-se os trabalhos de Montalvão Machado (1957, 1962), de J. Manuel Nazareth (1977, 1978, 1979), de Miriam Halpern Pereira (1969), entre tantos outros que muito contribuíram para a história da população portuguesa.
Influenciada pela terceira geração da escola dos Annales, a emergência da “nova história” social, tributária da interdisciplinaridade, conduzirá à ampliação dos conceitos de fonte e ao alargamento do campo historiográfico, incorporando-se novos territórios como os marginais, os excluídos, que beneficiarão a pesquisa sobre a história das mulheres, situação que ocorrerá a partir dos finais da década de 1970 e, sobretudo, já nos anos oitenta. Ao ser dotada de instrumentos teóricos e metodológicos mais adequados e ao se deslocar a análise dos acontecimentos de natureza política para os da vida privada e quotidiana, a história das mulheres adquiriu condições para o seu progresso. Não menos importantes, nessa década, foram os fatores de natureza conjuntural, salientando-se o contributo dos movimentos feministas e de outras ações de intervenção feminina, os quais, ao questionarem o lugar das mulheres no processo histórico, obrigaram a rever a sua ausência e a conferir-lhes uma visibilidade que lhes permitiu aceder ao estatuto de sujeito e à cena da história. Sob o impulso dos feminismos surgem, nos anos 1970, os primeiros estudos que interrogam as origens deste movimento, suas influências teóricas e cronológicas, avançando-se no conhecimento do protagonismo feminino em associações ou movimentos que lutam pelos direitos das mulheres. Ilustra esta linha de investigação o trabalho pioneiro de Dejanirah Couto-Potache sobre “Les origines du féminisme au Portugal”, apresentado no Colóquio Utopie et socialisme au Portugal au XIXe siécle, promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian, no Centro Cultural Português, de Paris, em 1979 (“Les origines du féminisme en Portugal”, 1983, pp. 449-478). Ao debruçar-se sobre as origens do feminismo em Portugal, a autora centra a sua análise no papel das mulheres como agentes de mudança. Rompendo com os parâmetros tradicionais da historiografia antropocêntrica, o seu estudo representa um avanço na história social sobre a condição feminina, podendo ser considerado o precursor de uma linha de estudos que terá grande desenvolvimento a partir dos anos 1980, centrada no papel das mulheres em movimentos sociais de diferente tipologia.