Se tomarmos como base de pesquisa o inventário de publicações portuguesas sobre o feminino e a condição das mulheres desde o século XVI aos anos 90 do século XX, recolhido por Regina Tavares da Silva em bibliotecas nacionais e publicado no ano de 1999 sob o título A mulher. Bibliografia portuguesa anotada (Monografias, 1518-1998), não é difícil concluir por uma produção relativamente modesta, ascendendo as monografias recenseadas a cerca de duas mil referências. Organizadas pela autora em grandes núcleos temáticos, aqueles que são numericamente mais representativos dizem respeito às seguintes matérias: “mulher e sociedade: igualdade/diferença/género” (12,9%); “história das mulheres/mulheres na história” (9,44%) e “trabalho feminino/formação e afirmação pessoal das mulheres” (8,49%). Já em termos cronológicos, os estudos centram-se, sobretudo, nos séculos XIX e XX, em particular no período pós-1850, obedecendo a sua grande maioria a duas grandes linhas de força: considerações e reflexões teóricas sobre o papel das mulheres na sociedade e biografias de figuras femininas.
Razões políticas e ideológicas parecem justificar essa incidência cronológica. A modernização do país em que estava empenhada a Regeneração e a necessidade de recuperar o atraso que nos separava de países considerados mais cultos e “civilizados” que promoviam a instrução feminina e a progressiva incorporação das mulheres no espaço público, por via do trabalho, tanto na indústria como no setor terciário, impulsionaram reflexões sobre o papel, os direitos e as responsabilidades das mulheres na sociedade, com impacto em publicações sobre o assunto. Apesar de as instituições reduzirem fortemente o direito de as mulheres participarem na vida social e cívica, sendo consideradas cidadãos de segunda ordem, é-lhes reconhecido um eminente papel na vida privada. As suas funções tradicionais, como esposa e mãe, são valorizadas e entendidas, por alguns liberais mais progressistas, como um veículo de progresso e um elemento importante na criação do estado nação e na construção da identidade nacional.