Alguns dos autores que escrevem sobre a problemática feminina partilham de pontos de vista menos segregadores quanto à condição feminina, compaginando-os, na medida do possível, com apelos à extensão e reforço da instrução feminina, de preferência de base laica, de modo a subtrair as mulheres da influência da Igreja católica, em especial do ensino congreganista religioso, que ensina “futilidades”, como escrevia Sanches de Frias (A Mulher. Sua infância..., s.d., p. 21). Assim, o expressam, entre outros autores, José Joaquim Lopes Praça (1872), J. A. Marques Gomes (1888), D. António da Costa (1892), Sanches de Frias (s.d.), Carneiro de Moura (1900) e Victor de Moigénie (1924). Todos, de um modo geral, enquadram a condição feminina numa longa narração histórica sobre os costumes ou sobre a vida sociocultural do passado, para se deterem, com pormenor, na “missão da mulher” na sociedade do seu tempo.
De forma similar, multiplicam-se na imprensa periódica, da responsabilidade de autores consagrados ou desconhecidos, textos de idêntico teor, a exemplo de O Instituto (A., “As mulheres historicamente...”, 1855, pp. 157-158) ou do jornal A Voz da Justiça, no qual o advogado António Macieira tece considerações sobre o quadro jurídico da condição feminina, desde tempos remotos aos inícios do século XX (1909). Se o/a autor/a partilha de princípios republicanos, o peso obstrutivo e negativo do evoluir histórico é reforçado, “tingido” de cores sombrias, de modo a se evidenciarem as novidades progressistas trazidas pelo novo regime político, a exemplo das “interpretações” da evolução histórica da condição das mulheres feitas por Luís de Mesquita (1909), Maria Veleda (1909) ou por Virgínia de Castro e Almeida (1913). Nessa linha interpretativa, a última autora usa o adjetivo “calvário” para qualificar de “inferioridade histórica” a condição feminina do passado, que contrapõe à “prodigiosa evolução” dos tempos futuros e que entronca nas expetativas criadas pela ideologia republicana (Almeida, A Mulher...,1913, p. 19), integrando a evolução histórica da condição feminina numa conceção linear do progresso da sociedade para a democracia.