A partir das primeiras décadas do século XX, as duas linhas de estudo de história das mulheres que temos vindo a explanar – o papel das mulheres na sociedade e as biografias de figuras femininas – assumem novas modalidades, sendo de assinalar, no primeiro caso, a produção jurídica sobre aspetos vários da condição feminina, em particular no quadro dos regimes matrimoniais e das estruturas familiares de vários períodos históricos, da autoria, sobretudo de historiadores do direito, como Paulo Merêa (1942, 1952, 1963), Cabral de Moncada (1948) e Guilherme Braga da Cruz (1941-1947), entre outros. Alguns autores (em particular autoras) refletem e incorporam influências do movimento feminista português nos trabalhos redigidos, a exemplo da advogada Elina Guimarães (1930, 1933, 1937, 1962), cujos estudos abordam vários aspetos da esfera privada como a adoção, o poder maternal ou a evolução da condição social e jurídica das mulheres portuguesas, entre outras matérias do foro legislativo. De igual modo, no âmbito da oposição ao Estado Novo, têm lugar algumas iniciativas que, pontual ou lateralmente, focam o papel das mulheres na história, como aconteceu com o ciclo de conferências organizado pela Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, no ano de 1969 (Guimarães et alii, A mulher na sociedade..., 1969).
Quanto às narrativas biográficas dos anos 1930-1960, as rainhas ocupam um lugar destacado, de acordo com a função “edificante e apologética” dos panteões tradicionais, distanciando-se da seleção das biografadas do período imediatamente anterior. Enquadram-se nesta corrente da disciplina histórica, obras de Ayres de Sá (1928), Bertha Leite (1940), Ester de Lemos (1954) e de Teresa Leitão de Barros (1924, 1949, 1950, 1954), entre outros autores. As rainhas D. Leonor, D. Filipa de Vilhena, D. Maria II ou as heroínas de Diu são objeto de biografias breves e romanceadas, de teor subjetivo e moralizante.
A renovação da história ocorrida na primeira metade do século XX, a formalização da escola francesa dos Annales, os contributos do marxismo e o desenvolvimento das ciências sociais vão permitir, em alguns setores intelectuais, uma abertura a novas metodologias na investigação histórica, a outros temas, perspetivas, questões e dimensões temporais. Nos anos 1930-1940, as preocupações antropológicas e sociológicas com a família e o matriarcado, na esteira dos trabalhos de Bachofen, conduzem alguns autores à elaboração de inquéritos sobre a sociedade rural portuguesa. Nesta linha de pensamento, Maria Lamas (1893-1983) percorrerá o continente e as ilhas em busca de informações sobre a condição feminina, dando à estampa, em 1948, a monumental obra Mulheres do meu país, que constitui um verdadeiro hino à mulher portuguesa e uma extraordinária mina informativa de aguçado sentido social.