Alguns elementos desta pequena elite ilustrada também “escreveram história” (Biguelini, Tenho escrevinhado muito...,2016, p. 132), sem que, no entanto, lhes fosse reconhecido qualquer mérito historiográfico, o que se deve interpretar à luz dos pressupostos ideológicos, de teor androcêntrico, da disciplina histórica e da autoridade que se projeta sobre o discurso científico. Os seus textos procuravam reconstruir memórias e homenagear familiares por feitos políticos ou militares, a exemplo de Antónia Gertrudes Pusich (1805-1883) (Diccionario..., 1.º e 22.º vols., 1858 e 1923, p. 77; 165), de Maria Luiza de Valleré (1759?-1824) (Idem, 6.º vol., 1862, p. 140) ou de Joana Margarida Mâncio Ribeiro da Silva (c. 1792-1826?) (Idem, 3.º vol., 1859, p. 281). Esta última traduzirá a obra Invasão da Russia, destroço do exercito francez |...|, publicada em 1817, à qual acrescenta fontes documentais por si pesquisadas, contribuindo para a produção do conhecimento sobre o episódio narrado.
À medida que se avança no século XIX são valorizadas outras atividades como a docência, a atividade artística ou a escrita jornalística, o que se compagina com a nova ética burguesa do trabalho, com um certo impulso de modernidade que se traduz em alguns avanços sociais tímidos e na incorporação das mulheres em novas profissões e, muito em especial, com a seleção de critérios distintos e alternativos na escolha das biografadas, proposta por setores ligados à “emancipação das mulheres”. Resgatam-se, assim, alguns percursos de mulheres que intervieram ativamente na vida sociocultural do tempo e que contribuíram para a construção de uma identidade feminina. Enquadram-se nessas condições, pelo seu protagonismo no campo do periodismo, Júlia de Albuquerque Sandy Aguiar (Idem, 13.º vol., 1885, p. 248) e Maria Peregrina de Sousa (Idem, 6.º vol., 1862, pp. 142-143), entre outras, ou, na atividade docente, Alice Pestana (Idem, 20.º e 22.º vols., 1911 e 1923, p. 146) e Ana do Carmo Pessoa (Idem, 20.º vol., 1911, pp. 157-158). Já Ana de Castro Osório é referida, para além da docência, pela sua atividade como subinspetora do trabalho (Idem, 20.º e 22.º vols., 1911 e 1923, pp. 158, 343; 92-94).
A imprensa periódica feminina contribuiu para difundir estes e outros relatos de vida, ao dar visibilidade a mulheres que conquistaram posições de relevo no espaço social pelo seu mérito e trabalho. A exemplo de outros casos, o Jornal da Mulher, entre Julho de 1910 e Novembro de 1911, destaca, na rúbrica intitulada “Senhoras em evidência”, breves perfis biográficos de mulheres que se afirmaram nos campos das letras, das artes, das ciências ou da benemerência, a exemplo de Raquel Gameiro, Maria O´Neill, Maria Augusta Bordalo Pinheiro, Carolina Michaëlis ou a Viscondessa de Sabugosa e Murça, entre tantas outras. Complementam os artigos, fotografias ou gravuras das visadas.