Revistas de teor feminista como a Alma Feminina ou a Sociedade Futura, dirigidas respetivamente por Adelaide Cabete e Ana de Castro Osório, sendo esta última diretora substituída, a partir do oitavo número, por Maria Olga Moraes Sarmento da Silveira, divulgam, por “patriótica missão” (Ribeiro, “A mulher em Portugal”, 1907), “celebridades femininas de Portugal”, entendendo-se por essa expressão mulheres que se destacaram na defesa da causa feminina ou “feministas ilustres” de origem estrangeira, como Avril de Sainte-Croix ou a Condessa Gabriela Spalletti (Alma Feminina, Julho e Agosto, Novembro e Dezembro de 1921). Como bem assinala Vanessa Gemis, “a biografia constitui uma arma ao serviço do militantismo feminino” (2008). Essa linha editorial prosseguirá em periódicos ligados aos movimentos feministas organizados, a exemplo da revista A Mulher (1946), órgão do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas.
Apesar de as biografias constituírem um vetor da historiografia académica tradicional, estando condicionadas por pressupostos ideológicos misóginos, tiveram papel decisivo na formalização de uma história do feminino, ao assegurarem um retrato inclusivo das mulheres no processo histórico, valorizando os seus percursos individuais e considerando-as agentes do saber. De igual forma, incentivaram a pesquisa sobre santas, mulheres ilustres ou a compilação dos seus escritos, independentemente de juízos de valor sobre a sua produção. Permitiram, ainda, tornar visíveis, nos meios de comunicação social, mulheres comprometidas com a obtenção de direitos femininos e com o reconhecimento de condições similares para homens e mulheres em várias áreas da vida social. Constitui, contudo, um tipo de biografia recorrente, emergindo a cada vaga feminista. Ressurgirá novamente nos finais dos anos 1970 e inícios dos anos 1980, acompanhando a efervescência política e cultural do pós-25 de Abril de 1974 e os movimentos feministas e de igualdade de género desse período, sendo o esforço de resgate da memória coletiva feminina protagonizado, sobretudo, pela Comissão da Condição Feminina, organismo estatal criado em 1977, a quem se deve a publicação de biografias de mulheres que desempenharam papel ativo na história de Portugal, em particular ativistas republicanas e militantes feministas (Vaquinhas, “Estudos sobre a história...”, 2009, p. 244), a exemplo de Carolina Beatriz Ângelo, Adelaide Cabete, Alice Evelina Pestana Coelho (Caiel), entre outras (Boletim da Comissão...,1979, 1980, 1981).