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A sua desconsideração para com a obra de Balbi parece esconder algum rancor político: «louvando em particular os que mais se tem acreditado, sem nenhuma consideração, nem escolha, fez subir ao mais eminente lugar na casa da sabedoria a muitos só porque estavam elevados a grandes empregos»; azar e negligência do senhor Balbi, que apesar de ser viajante curioso, «demorando-se longo tempo nesta capital, e preparando-se para mostrar à Europa inteira tudo quanto pudesse enobrecer Portugal», teve «tão pouca fortuna na escolha das pessoas que o dirigirão». A crítica é metodológica e de conteúdo, poupando as boas intenções do autor italiano, porque Balbi continua sendo uma autoridade, e o seu trabalho a merecer largo reconhecimento. Contudo, as observações deste religioso não são peregrinas, na medida em que o texto de Balbi patenteia imprecisões que podem ser corrigidas. Há, como é óbvio, um fundo ideológico que alimenta esta polémica: de todo o modo, a denúncia das inexatidões históricas de Balbi, embora não constituam prova da conjeturada maneira de “escrever à pressa”, reprovada por Duarte Villela, representam um ato de legitima crítica. O impacto dos estudos de Balbi sobre as ciências e as letras portuguesas e continentais foi enorme, porque o seu conteúdo interdisciplinar, pormenorizado e exaustivo continua a representar uma fonte de informação ineludível para conhecer a economia, a sociedade, a cultura de Portugal no princípio de Oitocentos. No seu tempo, surgiu a recensão muito favorável de Francisco Solano Constâncio, publicada no tomo XVII dos Anais das Ciências, das Artes e das Letras (Abril de 1822, pp. 84-103). E em tempos mais recentes, historiadores como Vitorino Magalhães Godinho, Jorge Borges de Macedo e Joel Serrão citaram os trabalhos do geógrafo veneziano, o que sucede também em numerosas Histórias de Portugal. Frisando mais uma vez o carácter poliédrico dos seus trabalhos, deve lembrar-se a importância que ainda hoje tem nos estudos de linguística o Apêndice à la géographie littéraire no tomo segundo do Essai statistique, nomeadamente o capítulo dedicado aos “Dictionnaires, grammaires et langues étrangères”. Senão propriamente numa perspectiva metodológica, Balbi mantém uma actualidade epistemológica que não se pode deixar de lado no conhecimento da sociedade portuguesa na passagem do século XVIII ao século XIX. |
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