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Como dissemos anteriormente, o aparecimento em Paris do ensaio estatístico sobre Portugal por Adriano Balbi é precedido de poucos meses por outro trabalho complementar, as Variétés politiques et statistiques de la monarchie portugaise, dedicado ao barão De Humboldt. É o fatídico ano de 1822, aquando da independência do Brasil, e as Variétés politiques tornam-se ocasião para uma reflexão sobre o estado da população brasileira, considerada menos activa do que a portuguesa em termos produtivos, militares e políticos, e vendo nesta fraqueza estrutural a falta de justificação da permanência do poder executivo no Rio. Eis a questão: qual a justa sede da capital da monarquia portuguesa? Lisboa ou Rio de Janeiro? A este respeito, o discurso de Balbi, embora sustentado num raciocínio que assenta em razões puramente socioeconómicas (pretexto para uma apaixonada invocação filo-portuguesa, posicionando-se assim fora da linha de defesa do direito à independência que prevalecia no pensamento dos exilados), não surge desprovido de um certo oportunismo político, ao considerar o clima e o debate em que vai ter de intervir. No auge da crise nas Cortes extraordinárias acerca da sorte do Brasil, num panorama político claramente contrário a qualquer hipótese de separação e independência da grande colónia d’além-mar, a atitude argumentativa do geógrafo italiano, embora não entrando especificamente na questão da independência, não deixa de se mostrar útil à melhor dinamização do seu enorme trabalho dentro do contexto do que investiga. O interesse de Balbi parece corroborar a posição portuguesa e, por essa razão, ao desenvolvimento do seu discurso não são alheias as suas motivações ideológicas. Dito isto, debruça-se sobre diferentes vertentes: por exemplo, no plano da justificação histórica desta espinhosa questão, os faustos da época renascentista, assim como a (ainda recente) corajosa firmeza nacional na guerra anti-napoleónica, manifestada em nome da independência, são razões de legitimidade para restituir a Lisboa o estatuto de capital dos territórios da coroa. |
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