Henrich Schaefer, um dos mais importantes lusitanistas a escreverem sobre a história de Portugal no século XIX, nasceu em Schlitz (Hessen, Alemanha) a 25 de Abril de 1794 e morreu em Giessen em 2 de Julho de 1869, aos setenta e cinco anos de idade. Formado em Teologia, ocupou as funções de secretário da biblioteca da corte em Darmstadt (1821), de professor (1833) e reitor (1848-49 e 1864) da Universidade de Giessen, cidade renana a norte de Frankfurt, então situada no principado de Nassau. Foi sócio do Instituto de Coimbra, segundo dados de 1852 (Revista Universal Lisbonense, 1852, p. 491). Na mesma época foi-lhe atribuída a comenda da ordem de Cristo, por intervenção do visconde da Carreira, ex-representante diplomático de Portugal em Paris e figura próxima do rei D. Fernando II. Não existe registo de que Schaefer tenha sido sócio da Academia das Ciências de Lisboa.

Nas palavras de Oliveira Marques, Heinrich Schaefer «era filho de um professor primário e cantor local. Estudou com seu pai e, mais tarde, ingressou no ensino secundário na cidade próxima de Hersfeld, destinando-se originariamente, quer à carreira administrativa quer à da música» («Henrich Schäefer e a sua História de Portugal», Portugal-Alemanha-África... 1996, p. 63). Nas décadas de 1820 e de 1830 terá aprendido castelhano, catalão e português, numa época em que se dedicou a escrever artigos sobre Espanha e Portugal. Não se lhe conhecem motivações pessoais ou laços afectivos significativos com Portugal. Pode afirmar-se que a sua Geschichte von Portugal nasceu de um momento cultural e editorial alemão de renovação e inovação intelectuais.

De uma forma geral, o espaço germânico, tal como a restante Europa dos anos de 1789 a 1848, conheceu diversas soluções políticas e sangrentas guerras e revoluções, a par de um esforço colectivo de esclarecimento cultural e de estudo da história e da identidade nacionais e europeias. Figuras cimeiras da cultura e da política do século XIX, como Goethe e alguns dos seus discípulos (casos dos irmãos von Humboldt e Schlegel), assim como Meternich e os historiadores Niebuhr e Ranke, destacaram-se pelo seu empenho e labor em arquitectar soluções institucionais e colecções documentais que servissem uma determinada concepção de bem público e as suas respectivas causas sociais e políticas ligadas à construção do estado-nação. De notar que a preocupação em delimitar estes repositórios documentais, com o consequente aprofundamento do aparato crítico da história, não estava desligada de uma função política e ideológica que a cultura europeia da época lhe atribuía. A história era entendida como elemento decisivo para a definição das culturas nacionais e respectivas disputas de afirmação e hegemonia. Era um ponto que unia as diferentes sensibilidades políticas.

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