É neste contexto que se destaca o esforço original e metódico de Schaefer, o carácter científico e inovador da sua análise e a consistência das ideias e conceitos empregues na sua Geschichte von Portugal. A obra foi publicada, em Hamburgo e Gotha, em dois momentos diferentes: dois volumes em 1836 e 1839; os restantes três em 1850, 1852 e 1854. O historiador alemão teve a ambição de abordar quase toda a história da monarquia portuguesa, recuando mesmo à época do condado portucalense e abarcando toda a sequência histórica, dos séculos XI a XIX (1095-1820). A edição alemã ficou organizada do seguinte modo: 1º volume, 1095-1383; 2º, 1383-1495; 3º, 1495-1580; 4º, 1580-1667 (com mais de metade do volume reproduzindo informação relativa à Índia portuguesa, de 1521 a 1580); 5º e último, 1667-1820. Quando publica o primeiro volume, em 1836, Schaefer tem cerca de 42 anos. Antes, outras histórias e resumos históricos sobre Portugal foram escritos por estrangeiros, mas sem resultados comparáveis. Nesse momento, o jovem Herculano, segundo bibliotecário da Biblioteca Pública do Porto, tem vinte e seis anos e está longe de almejar escrever a História de Portugal cuja publicação iniciará em 1846.

É indubitável que a História de Portugal de Schaefer, abrangendo um período muito longo da monarquia portuguesa – de 1095 a 1820 – constituiu um instrumento valiosíssimo de conhecimento da história nacional, ainda para mais originalmente enquadrado numa colecção de histórias dos estados europeus, produzida em solo alemão e com o rigor científico e metodológico que isso implicava, na época em que foi publicada (1836-1854). Estava, definitivamente, ultrapassada a «simples narração retórica dos sucessos». Para trás ficavam outros projectos de menor envergadura, de autores estrangeiros, como Rabbe, Fortia e Mielle e o próprio Ferdinand Denis. As obras de Schaefer e de Denis exerceram, de resto, enorme fascínio sobre as elites culturais portuguesas das décadas de 1820 a 1850, a ponto de serem «as mais citadas na historiografia portuguesa de divulgação» da época (Sérgio Campos Matos, Op. cit., pp. 67 e 79). Certo é que, na folha oficial portuguesa, Schaefer era qualificado, em Maio de 1845, como o «autor da melhor história de Portugal que tem aparecido até hoje» (Diário do Governo nº 123, p. 566) – um ano antes da edição, em Paris, do Portugal de Ferdinand Denis.

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