Enquanto isso, Costa de Macedo, em discurso de 21 de Janeiro de 1843, ainda invoca o exemplo dos patriarcas de 1788-1795 para se referir à Colecção de Notícias para a História e geografia das Nações Ultramarinas (História e Memórias…, 2ª série, tomo I, parte II, 1844, p. III) e às efemérides náuticas, colectâneas de textos e de dados sem qualquer impacto ou inovação metodológicos, perpetuadores de uma tradição já despojada de verdadeira virtude senão a da auto-congratulação. Concedia contudo destaque às Ciências Morais e Políticas, o que indica uma vontade clara (mas de difícil concretização) por mudanças reais na utilização do conhecimento histórico e científico, a bem de uma regeneração social e política que tardava em vingar.
A publicação mais duradoura desta época será a da História e Memórias, com várias séries editadas, mas amalgamando produções de membros das três classes e reproduzindo sobretudo memórias parciais e não tanto visões históricas de conjunto. Outras colecções de renome, como Efemérides náuticas ou diário astronómico (65 tomos, 1788-1809 e 1820-1862) e Colecção de Notícias para a História e Geografia das Nações Ultramarinas (7 tomos, 1812-56) conheceram vários editores literários e alguma longevidade – especialmente a primeira – embora haja ainda que as considerar de mais perto, quer em termos do seu contributo crítico, quer no plano das conexões disciplinares, de modo a tornar possível delimitar a concepção e o lugar atribuído aos estudos históricos. Para tal será necessário sistematizar a informação bibliográfica e temática contida nestas e em outras colecções de relevo no período considerado.
Embora, do primeiro cartismo (1826) à regeneração (1851), tenham surgido importantes historiadores nacionais e estrangeiros, que ainda hoje constituem referências incontornáveis da época, os mesmos não foram integrados e assimilados na ACL por iniciativa desta, a não ser que a ela pertencessem de pleno direito anteriormente – como foi o caso de alguns dos sócios efectivos da classe de literatura portuguesa (depois de 1834, de ciências morais e belas-letras). Não se deverá, todavia, reduzir a questão a mera explicação demográfica. Num país onde a guerra civil politizava todos os sectores de actividade (o académico não era excepção), obrigando os indivíduos a optarem por uma linha de conduta clara (a neutralidade era possível, mas difícil) e a agirem em função dela, exilando-se, homiziando-se, aceitando funções públicas ou pegando em armas, a Academia não soube ou não pôde continuar a ser o viveiro de novos historiadores e investigadores de matérias históricas.