Apesar de nesta época imperar a concepção de procurar conciliar a cultura oficial do liberalismo com o passado histórico português, articulando-a com a tradição académica erudita e com uma valorização da memória histórica e das exigências de opinião pública, muito para além do universo académico, a opacidade e carácter elitista da ACL dificultaram o acesso dos não-iniciados à instituição. Uma interpretação que apenas os resultados de um estudo prosopográfico a desenvolver poderá confirmar ou refutar. Mas os primeiros indicadores de uma análise sistemática de algumas centenas de sócios indica uma persistência, até à liberalização estatutária de 1852 e consequente alargamento da base de angariação de membros, de uma maioria de clérigos, nobres titulares e funcionários régios, lentes da Universidade de Coimbra e homens maioritariamente portugueses. O número de sócios efectivos era muito restrito (24 no total, ficando por vezes abaixo desse limite máximo) e existiam limitações claras na progressão hierárquica de correspondentes para sócios livres e, finalmente, efectivos. A divisão em secções e o trabalho concreto destas só vai surgir mesmo com o sangue novo que Alexandre Herculano introduziu na instituição, a partir daquela data.
Até lá, a inovação surgia isoladamente: lentes e bibliotecários relativamente jovens, como sucedeu com Coelho da Rocha, Alexandre Herculano, Cunha Rivara e outros. A principal excepção será Francisco Adolfo de Varnhagen, apoiado pelo vice-presidente da Academia, Frei Francisco de São Luís. Por exemplo, não será a ACL quem publicará a primeira colectânea moderna de sinopses documentais e de documentos diplomáticos portugueses, o Quadro Elementar… e o Corpo Diplomático…, em 1842 e 1846, mas sim o governo português, através do visconde de Santarém, em Paris. Serão Henrich Schaefer, Ferdinand Denis e Alexandre Herculano quem, em 1836-39 e 1846, publicarão histórias de Portugal dignas desse nome, em editoras particulares de Hamburgo, Paris e Lisboa. Também não foi a instituição a imprimir textos de cunho histórico sobre as cortes tradicionais portuguesas, sobre as instituições nacionais ou sobre os acontecimentos políticos recentes, como sucedeu no caso de obras dos mesmos visconde de Santarém e Coelho da Rocha e de José Liberato Freire de Carvalho, nos anos de 1827 a 1841.