Embora a paz militar estivesse restabelecida (já não ocorriam assassinatos políticos ou actos de guerrilha política, como na década de 1830), não vemos, antes de Herculano (e com a excepção pontual do visconde de Santarém em 1821-22, mas apenas para documentos diplomáticos), um ressurgir da busca de fontes inéditas por cartórios e arquivos eclesiásticos e civis, espalhados pelo reino, como sucedera em 1788-1794. As aulas de Diplomática, esse velho projecto de Frei Manuel do Cenáculo, a que João Pedro Ribeiro dera notável dinâmica, não produzia alunos suficientes para movimentar uma demanda colectiva por documentos históricos, como em França sucede com a École des Chartes (com a publicação da Bibliothèque de l’École des Chartes). A Colecção de Livros Inéditos (1790-1824), tal como outras colecções históricas da ACL, não ganha um ritmo de publicação comparável com a que a dita instituição francesa produz, com novos volumes a surgirem todos os anos. As comissões de história e de publicação das cortes tradicionais portuguesas, as únicas que se distinguem na classe de literatura portuguesa/ciências morais e belas-letras, das décadas de 1810 a 1840, integram muito poucos elementos – os sócios incluídos são sempre os mesmos, não surgindo uma renovação lógica com indivíduos mais jovens e devidamente formados em estudos paleográficos.
A Academia não faz, pois, a ponte entre a sua classe dedicada aos estudos históricos e as instituições pedagógicas e arquivísticas que mais poderiam fazer frutificar novas investigações – a Universidade de Coimbra, a aula de Diplomática e o arquivo central da Torre do Tombo. Ao contrário do que sucede em França, a figura do académico-historiador não está associado à leccionação de conteúdos históricos, ao constante desafio de publicação de textos em imprensa especializada regular, ao próprio debate das matérias históricas no parlamento nacional. Na França liberal, um historiador como Guizot e um filósofo como Cousin assumem um papel de destaque, político e intelectual, que constitui um claro sinal de uma sociedade que vive apaixonadamente a história e o debate de ideias: à recuperação e preservação do passado, nos monumentos e documentos, são dedicadas verbas e esforços redobrados. Por contraste, o académico de quem se espera a inovação histórica e científica, no seio da ACL, está desligado dos anseios de novos públicos, populares e cultivados, que obtêm regulamente a gratificação de novas descobertas, filológicas, arqueológicas e geográficas, como sucede em França, na Grã-Bretanha e no espaço germânico.