E se é verdade que este chega a sócio efectivo da classe de ciências morais e belas-letras (mas não o sendo à hora da morte), nem Schaefer nem Coelho da Rocha foram sócios da agremiação; Denis só o foi muito tardiamente; e Herculano chegou a demitir-se de sócio correspondente, por desentendimentos a propósito da polémica do milagre de Ourique.
Tais exemplos, embora isolados, parecem apontar para uma constante na ACL, no período entre 1834 e 1851: a História não era então uma área privilegiada de inovação e renovação metodológicas e científicas, por não possuir o país as condições de estabilidade, financiamento e estímulo canalizáveis para a instituição, por estar desfasado das prioridades culturais de outras monarquias parlamentares europeias. A produção apresentada, internamente, na ACL era ainda a das antigas análises sectoriais das Memórias de Literatura de 1792-1814. Ora se estas foram inovadoras nessa época de passagem para o século XIX, não poderiam, naturalmente, sê-lo quarenta ou cinquenta anos depois. O próprio debate e produção sobre a literatura portuguesa – afinal, um dos objectos principais do programa da Academia – estava agora nas mãos de literatos e historiadores como Ferdinand Denis, Francisco Adolfo de Varnhagen e Alexandre Herculano, em livros publicados em Paris e em Lisboa e em imprensa de prestígio como O Panorama e a Revista Universal Lisbonense.
O espírito desta nova geração contrastava claramente com o de sócios efectivos muito antigos na classe de ciências morais e belas-letras, como Tomás António de Vila Nova Portugal, Francisco Recreio e mesmo José Liberato – intelectuais de orientações doutrinárias bem diversas, o que não deixa de ser sintomático de uma determinada intenção de fundir na ACL posições ideológicas desavindas e não tanto congregar elementos académicos sensíveis a novas ideias. Ao não assimilarem tais valores, com a sua energia transbordante e novas visões, a classe e a ACL afastavam-se perigosamente dos novos tempos, não os podendo influenciar nem conseguindo, naturalmente, criar uma plataforma de trabalho, na qual antigos e novos referenciais e cultores historiográficos pudessem mutuamente aprender e criar novas linguagens e ferramentas históricas.