Lançado em 1837, O Panorama figura como um dos periódicos mais importantes do século XIX. Marcou um tempo e constituiu um modelo que veio a ser seguido por outros jornais da altura. Estando disponível ao público semanalmente, publicou-se com algumas interrupções até 1868, perfazendo assim cinco séries: 1837-41, 1842-44, 1846-56, 1857-58 e 1866-68.
Após a guerra civil de 1832-34, que colocou em confronto liberais e absolutistas, o regime monárquico constitucional estabelecia-se definitivamente em Portugal. Não na sua forma final, note-se, que continuaria a ser objecto de disputa (armada) pelas diferentes famílias liberais (setembristas e cartistas) até sensivelmente meados do século. Todavia, e apesar dos momentos de maior tensão política registados neste período, observamos o emergir duma nova sociedade - ou a tentativa de - enquadrada num novo modelo político, social, económico e com os seus antecedentes em 1820. O movimento associativo com fortes raízes no século XVIII, mas com um crescimento notório a partir de 1834 (sociedades patrióticas, cientificas, culturais e industriais), e a imprensa periódica, que vinha a desenvolver-se de forma significativa com diferentes matizes desde a primeira década de oitocentos (com melhoramentos técnicos e, mais importante, na esteira do surgimento da lógica de um espaço público de discussão), assumem particular destaque, quer pela sua expansão considerável mas também pelos seus intuitos. É sob o signo dos melhoramentos materiais, duma instrução mais alargada e da «regeneração» social que temos de compreender O Panorama.
A primeira notícia de que se estava a preparar um novo periódico, ainda sem nome mas já com uma estrutura delineada, surgiu no Diário do Governo a 21 de Fevereiro de 1837, em que se refere que "alguns cidadãos portugueses, amigos da verdadeira ilustração, conceberam o projeto de derramar, por meio de uma publicação semanal, a maior cópia possível de conhecimentos úteis, procurando para esse fim aproveitar os vastos subsídios que lhes fornecem as obras periódicas dos outros países" (Diário do Governo, nº 44, p. 284,1837). Num período em que a discussão política fervilhava, com uma imprensa altamente politizada, os promotores deixavam já antever um periódico em "que os assuntos políticos não obteriam entrada nas suas colunas", intuito que ficaria posteriormente explícito no artigo 49º dos estatutos da Sociedade. A premissa era então de um periódico instrutivo e apolítico, num sentido partidário e de luta política, independente e cingindo-se à divulgação de conhecimentos.