Uma parte substancial da memória histórica mobilizada pelos liberais foi, num certo sentido, integradora. Assegurava, apesar do corte com o absolutismo, uma continuidade em que o passado-presente-futuro encontravam-se, principalmente numa altura politicamente instável, com revoluções e guerra civil. É pois neste sentido que a concepção de história patente n´O Panorama é instrumental. A história não foi utilizada apenas na vertente lúdica, de divulgação, fazendo uso da literatura e de outras artes com sentido pragmático - e programático -, isto é, voltada para a formação cultural do cidadão. António Oliveira Marreca enquanto redactor expressou bem esta dimensão do jornal na década de 40: "foi ele [O Panorama] o primeiro que a par da difusão das ideias de utilidade material, trabalhou para que renascesse o sentimento da antiga energia e gloria nacional, sentimento amortecido e quase gasto por dilatados anos de desventura e desalento, e sem cuja renascença não há regeneração possível, porque se não começa pela regeneração da dignidade do homem e do cidadão. (...) O Panorama tem procurado incorporar os desejos e esperanças do futuro com as saudades e tradições do belo e grandioso que enobreceu esta nossa boa terra em eras remotas. Temos a convicção de que pelo lado moral é este o máximo serviço que a imprensa popular pode fazer à nação, e de que o Panorama o tem feito ("Introdução", nº 106, p. 1, 1844). Tendo como pano de fundo uma memória histórica (construída) é advogado o seu uso, os seus exemplos melhor dizendo, numa crença evolutiva do povo português, cumprindo, desta forma, o propósito do jornal.
Já nestas duas primeiras séries d´O Panorama vemos reflectidas outras tendências que iriam ser uma marca no mercado literário e que davam fundamentação à dimensão de jornal literário, subtítulo d´O Panorama: o romance histórico e a crítica. Tendo por base factos ou figuras históricas, o romance histórico, uma pedra de toque do ideal romântico, para além do carácter lúdico ou recreativo, representava, segundo Herculano, também um importante papel de divulgação histórica, "Nós procuramos desentranhar do esquecimento a poesia nacional dos nossos maiores" (O Panorama, nota, nº 126, p. 306, 1839). Não confundia, contudo, a história com a novela, embora apresentasse um modelo misto, "nisto demos a crónica; no vestuário com que o enfeitámos, demos o romance".