Encontramos reforçada a premissa de uns meses antes. A ideia era utilizar o jornal como instrumento que serviria para compensar as carências de escolaridade dos estratos sociais mais baixos da população (estaremos perante uma proto abordagem demopédica?), e duma formação superior aparentemente deficitária, assumindo, assim, um carácter interclassista. O jornal, e não o livro, seria utilizado como veículo para exercer uma função regeneradora, civilizadora, de evolução da sociedade, logo, do progresso do país (M. dos Santos, Intelectuais Portugueses na Primeira Metade de Oitocentos, p. 165).
A "instrução variada" a que se referia Herculano encontramo-la no artigo 47º dos estatutos da sociedade, em que observamos as áreas que seriam tratadas nas páginas do jornal: história nacional e estrangeira, monumentos e apontamentos de tempos remotos da antiguidade, geografia, biografias (de militares, eclesiásticos, entre outros), literatura, direito, economia, comércio, desenvolvimentos técnicos quer a nível industrial como na agricultura, algumas noções de higiene, entre outros. O nome do jornal caracterizava, de facto, a síntese pretendida. Herdeiro duma parte da tradição iluminista do século XVIII, a natureza enciclopédica é evidente, característica, aliás, de vários periódicos da mesma altura, como o Arquivo Popular (1837), Arquivo Pitoresco (1857) ou o Arquivo Universal (1859).
A instrução (ou o seu "derramamento") assumiu-se, como vimos, como a premissa central. Várias vezes apontada ao longo do jornal para além da "Introdução" do 1º número (por exemplo, e na 1ª série, "Instrução popular", nº 5, p. 36; "Da educação intelectual", nº 27, p. 214, 1837), foi neste ponto, mas não só, reveladora de um movimento cultural que tinha dado os seus primeiros passos com o advento do liberalismo, o romantismo. Se Almeida Garrett parece ter sido o introdutor, pela via literária, deste novo estilo em Portugal, através das suas obras Camões (1825) e D. Branca (1826), a verdade é que o romantismo se consolida só em meados da década de 1830. O intelectual romântico, principalmente na primeira fase deste movimento, assumia-se como um educador (devido às experiências no exílio), propondo, assim, a utilização da educação como instrumento para um novo modelo de progresso e construção duma nova sociedade (F. Catroga, «Romantismo, literatura e história», p. 545).