Como Godinho declara em carta a Lucien Febvre logo em 1946 foi sob a influência dos Annales que se formou o seu espírito de historiador debutante (Godinho, Do ofício, p. 107). Revista na qual quase de seguida, quando já em Paris, colabora com 6 contribuições entre 1948 e 1950. E não foram muitos os restantes portugueses cujos nomes figuram nos Annales, entre 1948 (antes não os há) e 1975: além de Magalhães Godinho (1918-2011), Alfredo Margarido (1928-2010) com 7 contribuições entre 1970 e 1974, António José Saraiva (1917-1993) com 5 colaborações entre 1967 e 1970, Miriam Halpern Pereira (1937) com 1 contribuição já em 1975 e Joel Serrão (1919-2008) também com 1 contribuição em 1954 além de José Gentil Pires da Silva (1922) este com 9 colaborações entre 1961 e 1971.
Todos, excepto Joel Serrão, com longas passagens ou estadias demoradas por França e contactos muito próximos com os historiadores e com a historiografia francesa. Portugueses que, não por acaso, se aproximam dessa revista já então mítica, – e há que reavivar que Magalhães Godinho é mesmo um historiador da escola francesa – discípulo directo de Lucien Febvre e de Fernand Braudel (de 1947 a 1960) – pelo que Lucien Febvre pôde escrever que em Paris e em contacto com o meio dos Annales a sua visão se tinha alargado. (Godinho, Do ofício, p. 184). E não há como esquecer que Gentil da Silva foi discípulo muito próximo de Braudel que lhe publicou os vários volumes sobre a estratégia de negócios em Lisboa nos séculos XVI-XVII e com quem se doutorou com uma tese sobre a banca e o crédito em Itália no século XVI, ficando porém a ensinar na universidade de Nice e pouco ou nada intervindo depois na história que se estava fazendo no país de origem.
Afinal, dessas inovações e dessas criações que estavam a mudar os rumos da história que se investigava, escrevia e ensinava nos meios mais avançados da Europa, alguma coisa foi chegando a Portugal. Pena foi que mais cedo e maior influência não pudesse ter despertado no meio académico por uma tão estimulante História, ampla e enriquecedora, que se queria “conhecimento cientificamente conduzido”, segundo a sabida lição de Lucien Febvre. Essas influências irão sobremaneira ser desenvolvidas com as novas organizações e novo pessoal docente das licenciaturas em História a partir de 1974.