De um modo muito concreto e muito combativo. Inicialmente um tanto “polémico” e mesmo “messiânico”, o que depois se irá atenuando (Revel e Chartrier, “Annales”, p. 28). Como iam dando notícia de congressos e outros acontecimentos que supunham interessar aos seus leitores. Logo no primeiro número, e para mostrar a diferença, para além do que Marc Bloch conta do Congresso de Ciências Históricas de Oslo (de 1928), vem a notícia do Congresso Internacional de Geografia do mesmo ano. Na leitura dos sumários de cada um dos números, mesmo dos saídos durante a penosa guerra em que Marc Bloch vai ser fuzilado como resistente à barbárie nazi, mesmo então, com o nome encurtado para Mélanges d’histoire sociale (para se furtar à censura instituída às publicações periódicas) as recensões de livros, as críticas, o alargamento temático não cessou. Como escreveu Lucien Febvre, sabendo do assassinato do seu parceiro, os “Annales continuam. Tanto quanto durarem, alguma coisa de Marc Bloch permanecerá entre nós, vivo, agindo, fecundo.” (Mélanges, 1944, vol. 6, nº1). Por isso, Lucien Febvre, em momento decerto doloroso de retomar o percurso sem o companheiro, avança: “apresentemos nós próprios ao público a História, a nossa História, a verdadeira História, de modo tal que este público, enfim, compreenda o que ela é, e para que serve.” E por aí se alcance “o sentido secreto dos destinos humanos.” (Febvre, “Face”, p. 8). Serão afinal incessantemente esses os seus Combates pela História. Como tinham sido os de Marc Bloch que em 1941, “entre as piores dores e as piores ansiedades” de uma guerra em que iria perecer, iniciava a sua Apologia pela história ou Ofício de historiador com uma pergunta de criança: “para que serve a história?” (Bloch, Introdução, p. 11). Resposta que procurava dar nesse admirável livro.
A repercussão dos Annales foi tal que sendo apenas uma revista, acabaram por se tornar uma instituição, de que a francesa VIe section da École Pratique des Hautes Études (com Lucien Febvre e Charles Morazé em 1947) – depois École des Hautes Études en Sciences Sociales (com Fernand Braudel a partir de 1956) acabou por ser outra face também visível dessa maneira de pensar e de fazer história em propositada relação íntima com as ciências humanas e sociais. Na lição de Braudel: “Uma das características de todas as pessoas que giram à volta dos Annales, é que o seu interesse é muito mais extra-histórico, estrangeiro a uma formação tradicional histórica, que interior à história.” (Braudel, Les ambitions, p. 173).