Leia-se em Braudel: “quando se trata da equipa dos Annales, do movimento, ou da pseudo-escola, dos Annales, aquilo que se lhe censura, o que nos censuram, é de ter esta preocupação particular de uma liberdade indispensável, que é liberdade do espírito de investigação, qualquer que seja a descoberta, se há descoberta, que encontraremos.” (Braudel, Les ambitions, p. 190).
No entanto, e não sendo uma publicação oficial de alguma universidade, a pouco e pouco os Annales vão sendo divulgados, tendo algum efeito também em Portugal. Sabe-se, pelo testemunho de Vitorino Magalhães Godinho, que desde cedo, talvez desde 1935, a Biblioteca Nacional de Lisboa tinha a revista à leitura (Godinho, A crise, p. 7). Em Coimbra, e por oferta francesa, talvez por mediação de algum leitor, existiam no Instituto de Estudos Franceses os primeiros números da publicação, de 1929, recepção que foi interrompida a pedido da Faculdade de Letras em 1935! Para compensar, a Faculdade de Direito também desde 1929 que recebia a revista e manteve a assinatura, que a Faculdade de Letras só retomará em 1961 (Nunes, A História, p. 59). O que significa que os historiadores portugueses, se encontravam bastante alheados de pesquisas e de orientações modernizadoras que estavam a ser determinantes de uma renovação historiográfica, apesar de conseguirem ter acesso a uma das mais importantes publicações da especialidade promotora de novas visões e de novas pesquisas. Assim quisessem. Porém, os mestres universitários podiam mesmo dispensar tal publicação... Por certo que nem Mário Brandão, nem Manuel Lopes de Almeida, nem mais tarde Salvador Dias Arnaut, ou Avelino de Jesus da Costa, em Coimbra, como Manuel Heleno ou Mário de Albuquerque em Lisboa, eruditos respeitáveis (o que aqui não importa), se aproximariam de uma qualquer problemática que se pudesse dizer social.
Mas por vezes há estranhas revelações e mesmo sucedem inesperadas surpresas. Como o escrito com que Torquato de Sousa Soares, professor extraordinário em Coimbra, apreciou Marc Bloch poucos anos depois do seu assassinato, talvez em 1953 (embora no volume da Revista Portuguesa de História, tom. III, datado de 1947). Estranhamente, dedica a Marc Bloch um sentido artigo.