Com uma convergência de atitudes mas sem uma unidade doutrinal – qualquer que fosse. Atitudes, problemáticas, métodos: sempre todos os que nesse espírito se integraram têm negado que os Annales se tivessem tornado uma escola.
Como explica um dos seus membros, “os historiadores da Escola stricto sensu trabalhavam em sentidos por demais diversos para serem facilmente reagrupados sobre uma bandeira intelectual comum”, sempre pela “ausência de espírito de sistema que caracterizava os Annales desde a origem”, essa como que “vagabundagem por todos os campos”, por “oportunidade e liberdade excepcionais”, atitude “feita de hospitalidade e abertura.” (Furet, A Oficina, p. 9). Magalhães Godinho reforça: “Não há uma “escola de Paris” em historiografia, no sentido de um conjunto de historiadores que sigam um padrão, que adoptem um formulário. Há apenas, e é muitíssimo, no sentido de uma atitude comum […] de partir de problemas, e problemas basilares da existência dos homens. Para buscar caminhos de explicações por uma faina paciente de reunião de dados e elaboração tanto quanto possível completa, não receando a ousadia das hipóteses, nunca se confinando nos horizontes acanhados, antes partindo sempre ao encontro de todas as outras perspectivas. O grupo dos “Annales” considera que não há, que não tem sentido que haja ciências humanas compartimentadas […].” (Godinho, Ensaios III, pp. 273-274). E Fernand Braudel, em 1955, é peremptório: “há um movimento dos Annales, não uma escola” (Braudel, Les ambitions, p. 172). E no ano seguinte, ao assumir a direcção da revista à morte inesperada de Lucien Febvre, não deixa de reiterar: “Nem Marc Bloch, nem Lucien Febvre tiveram a vontade ou a ilusão de ter fundado uma Escola, com as suas fórmulas e as suas soluções.” (Braudel, “Les Annales”, pp. 1-2). E há mesmo quem defenda que se trata de “uma comunidade científica” e refute a existência de “uma capela dogmática.” (Revel e Chartrier, “Annales”, p. 29).
Abertura às ciências humanas, liberdade, nada mais contrário ao que se vivia em Portugal por esses anos. Onde se prolongava a historiografia metódica ou neo-metódica (Nunes, A História, p. 260), por vezes de excelente qualidade erudita, mas que não ia além disso (e muitas vezes nem isso) – sequer interessada em qualquer inovação metodológica ou em construções de novas problemáticas.