O professor medievalista dele terá lido em boa parte os trabalhos que elogiosamente refere: “deixou uma obra que, sem ser extraordinariamente extensa, abre, como um clarão, novas perspectivas à História, substituindo o velho conceito de ciência do passado pelo de ciência do homem ou, melhor, dos homens – dos homens no tempo – ciência que não decompõe o homem em funções separadas, mas que o mete inteiramente em si próprio. Por isso a história evolue com o homem, e como ele é engenhosa, é activa.” (Soares, Marc, p. 6). Afirma mesmo desse “apóstolo de nobres ideais” que se encaminhou para o martírio. E não deixa de considerar central a sua acção na revista: “Não basta, para se apreender a obra de Marc Bloch, ler os seus livros. De facto, talvez nenhum deles conserve tanto o sabor da sua actividade mental como os Annales d’Histoire économique e sociale que, com Lucien Febvre, fundou em 1929.” (Idem, p. 7). E Torquato passa em revista, rápida mas atentamente, e sempre carregados de elogios, os livros e alguns artigos, e também algumas participações na revista que apreciava. Anuncia ainda preparar um “minucioso exame crítico” a Apologie pour l’Histoire ou Métier d’Historien, trabalho que afirma “rico de ideias e sugestões” (Idem, p. 24). É estranho que não tenha separado o historiador do cidadão, tratando-se de um resistente ao nazismo, feito com os comunistas, que Torquato atacava violentamente nas aulas, pelo menos nos anos Sessenta. Porque se trata de uma “mensagem de uma personalidade tão rica, de um espírito tão fino e tão bem sazonado pela reflexão e pela experiência, por vezes tão cruel, que não pode deixar indiferentes.” (Idem, pp. 24-25).
Mas Torquato, salvo a honrosa excepção da sentida evocação de Marc Bloch, não irá nos seus trabalhos além dos historiadores de algum modo eruditos como Gama Barros e pouco mais avançará numa modernidade que abominava. Apesar da atenção que dava aos títulos que se publicavam em terras de França e de Espanha, adquirindo boa e actualizada bibliografia para a Faculdade. Contradições insanáveis. Por seu intermédio Charles Verlinden (1946-1947) e Yves Renouard (1949-1950) passaram por Coimbra, mas não deixaram marca nem seguidores, nem isso importava a alguém. O fim dos anos 40, os anos 50 e inícios de 60 serão anos de chumbo na Faculdade. O mais a que se abalançava Torquato como historiador (e apenas às vezes) era a Henri Pirenne e François-Louis Ganshof. Com uma ou outra incursão até Michel Mollat em obra de generalidades (Soares, “O Infante”).