E se não é de imaginar que Eduardo Borges Nunes se mostrasse interessado nos Annales, há que supor que José António Ferreira de Almeida, que se pode caracterizar como historiador ágrafo mas muitíssimo bem informado, deixasse de enveredar pelos caminhos da inovação entre 1952 e 1961, anos em que leccionou História de Portugal na Faculdade de Lisboa.
Entretanto nos anos Sessenta – e só então – na Faculdade de Letras de Coimbra a presença de Luís Ferrand de Almeida e de António de Oliveira também se traduzirá num caminho para as mais recentes pesquisas históricas, com avanços e recuos condicionados pelos incertos tempos que corriam, mas com uma atenção sempre cuidadosa ao que em Paris se ia fazendo. Pelo que a história económica e social, atenta aos Annales foi sendo inspiradora de trabalhos desses assistentes (ao tempo) e mesmo de dissertações de jovens licenciandos que a Faculdade não pretendia controlar. Na refundada Faculdade de Letras do Porto, desde 1962 estava como professor José António Ferreira de Almeida, vindo de Lisboa. Embora com escassa produção escrita, era um mestre imensamente sabedor e um excelente prelector – Godinho dizia dele que dos portugueses era quem sabia mais História – que não deixaria de usar a actualização e a abertura de campos historiográficos que os Annales iam mostrando. Dissertações de licenciatura orientadas por si trazem essa marca. Mas a Faculdade de Letras do Porto, dirigida por historiador de arreigada tradição erudita e com professores muito conservadores só mais tarde, depois de 1974, viria a revelar-se empenhada em novidades metodológicas e temáticas. Entretanto vegetaria ao sabor de métodos bem sabidos e devidamente provados.
Assim, volens nolens, a historiografia portuguesa posterior aos anos 40 foi influenciada pelo que em França se ia publicando e em especial pelos autores de referência que se afirmaram a partir dos Annales: Marc Bloch, Lucien Febvre sobretudo, no fim desses anos 40 Fernand Braudel e posteriormente os discípulos destes primeiros, Emannuel Le Roy Ladurie, Pierre Goubert, René Baehrel, Frederic Mauro, Pierre Chaunu, Albert Silbert e muitos mais. Não nos podemos esquecer que Vitorino Magalhães Godinho é parte inteira desse grupo, tal como Gentil da Silva, e que Luís de Matos e Joaquim Barradas de Carvalho foram muito directamente influenciados pelo que se passava em Paris na École Pratique des Hautes Études (IVe section) que ambos frequentaram embora em tempos diferentes.