Como logo desde início tinham avançado Marc Bloch e Lucien Febvre, a história não trata do indivíduo mas da sociedade – ou quando trata do indivíduo fá-lo no enquadramento de uma sociedade. De uma maneira alargada, buscando apoio e relacionando-se com todos os saberes. O que seria considerado perigoso. Como disse Georges Duby, a revista “os Annales forçou a história a debruçar-se sobre as outras ciências do homem e a abrir-se a elas.” (Duby, “Historiador”, p.13). Ora abertura era coisa que parecia mal em universidades portuguesas. A própria Revista Portuguesa de História (criada em 1941), que ainda mostra alguns sinais de bem receber inovações nos iniciais anos 40, depois como que resulta um órgão de um grupo ensimesmado de investigadores até entrados os anos 60. Pese embora os esforços com que pretendia colaborações exteriores. Só com o andar dos anos dessa década as orientações e os interesses tenderão a orientar-se noutro sentido.
Entretanto a situação tendia a mudar em Lisboa. Foi precisamente entre os primeiros discípulos de Vitorino Magalhães Godinho, dos anos em que leccionou na Faculdade de Letras de Lisboa (1942-1944), que se instalou a inovação e que se abrem novas perspectivas historiográficas. Desse grupo fazem parte historiadores que serão depois os cultivadores dessas outras orientações: Joel Serrão, Jorge Borges de Macedo, Joaquim Barradas de Carvalho, Margarida Brandão, Julião Soares de Azevedo, José Gentil da Silva, Bandeira Ferreira, Maria de Lourdes Belchior e uns tantos mais. “Foi graças ao professor Magalhães Godinho que se nos tornaram familiares os novos métodos da historiografia postos em uso pela equipa dos Annales – Marc Bloch, Lucien Febvre, Fernand Braudel e outros.” (Soares, Portugal, p. 46). Antes disso “essa corrente historiográfica era pouco conhecida.” (Godinho, Do ofício, p. 42). Dando continuada atenção à historiografia que decorria da lição e da doutrinação dos Annales. Que viria a deixar marcas na historiografia portuguesa do post-guerra, se bem que dificilmente subisse às universidades. Ou descesse, como afirmava Rodrigues Lapa – o que lhe valeu a expulsão do ensino superior português em 1935. Entretanto em Lisboa uma tentativa de actualização tem como figura central ainda Vitorino Magalhães Godinho, que de fora da universidade (depois de 1944) não desistia de iniciativas de modernização nomeadamente através da tentativa de criação e dinamização de um núcleo português da parisiense Associação Marc Bloch sob a designação de Sociedade Portuguesa de História da Civilização (1949-53).