A Historiografia Militar assume-se como um relevante campo da história e da própria historiografia, indelevelmente presente nos percursos discursivos de muitos historiadores, seja desde a alusão belicista remota até ao pormenor mais incisivo dos assuntos militares. Desde os primórdios da disciplina histórica científica que as temáticas militares aspiram uma expressividade autónoma, embora estejam quase sempre subordinadas à história eminentemente política, remetendo-se, em termos genéricos, para as inúmeras narrativas dos heróis, batalhas e campanhas militares.
Assim, como problematizar as definições e os limites conceptuais da “História Militar” e, num outro patamar científico, quais as evoluções discursivas da “escrita da História Militar”, inclusivamente, da “Historiografia Militar”? De que modo os diversos autores nacionais e internacionais mais influentes pensaram estes conceitos e a sua estreita conexão e interoperabilidade?
Quase todos os registos historiográficos militares nortearam-se para os caminhos da exaltação/glorificação de um (quando não, um suposto) passado político-bélico, aparentados com os imperativos ‘oficiais’ das construções históricas regionais, nacionais e imperiais. Porém, num outro prisma analítico, manifestou-se sempre alguma dissimulação entre a especialização e a generalização dos assuntos militares em toda a escrita historiográfica, a qual se constituiu gradualmente como um dos eixos centrais da história. A investigação historiográfica abrange os processos pelos quais a história, enquanto disciplina, ambiciona expandir a sua percepção sobre determinados acontecimentos históricos. Envolve, necessariamente, uma articulação cronológicometodológica entre as tendências históricas e os problemas da investigação historiográfica ao longo dos tempos. Deste modo, poderemos adquirir uma percepção, ainda que compreensivelmente genérica, sobre a Historiografia e os seus contributos para a evolução da história.
Pretendemos, assim, apresentar um quadro sinóptico sobre algumas especificidades historiográficas, os seus protagonistas, objectos e métodos de estudo da Historiografia Militar portuguesa. Denota-se que a História Militar sofreu um processo de segregação, embora de forma distinta em cada país, e só nas décadas de 1970-1980 conhecerá o seu turning point em França e em Inglaterra graças às iniciativas universitárias e à cooperação da Comissão Internacional de História Militar (CIHM).