Recordando os movimentos nacionalistas europeus na segunda metade do século XIX até à Primeira Guerra Mundial, constatamos que as historiografias oficiais desempenharam uma função reguladora na legitimação socio-política dos Estados nacionais. Obviamente que coexistiram várias tendências historiográficas nacionais, algumas até contrárias aos discursos oficiais, tal como referiu Nuno Severiano Teixeira (Teixeira, «A História Militar…», 1991), embora imperassem as versões autorizadas pelos poderes públicos. A história abonava a construção e reforço das identidades do Estado através da transmissão dos valores antigos, onde a guerra, os feitos militares e os heróis constituíam as referências na evolução histórica e, em alguns casos, o mito fundador da própria nacionalidade, uma premissa categórica na nossa história, no que concerne à figura de D. Afonso Henriques, por exemplo.
A História Militar estava relacionada com os estudos da Estratégia e da Táctica, fundamentadas nos exemplos das campanhas passadas, de modo a prever o planeamento e prossecução das operações militares. Partilhava os elementos básicos da história Geral, assim como lhe oferecia um espaço privilegiado: a descrição das campanhas, das batalhas e dos grandes chefes militares e as suas façanhas. Contudo, será contra esta corrente historiográfica alicerçada no événementiel político-militar e na legitimação política da história (mormente, na História Política) que se dará o processo de renovação historiográfica militar, pese ser necessário não sobrepor o uso da memória histórica pelos militares à História político-militar tradicional, assim como aos respectivos processos de revisão crítica e científica.
Delineando um esboço dessa evolução científica, desejamos contribuir para as discussões metodológicas e historiográficas desse campo de estudo dos historiadores, fomentando o debate acerca das interpretações da História Militar, avaliando os embates entre as historiografias conservadoras e as historiografias mais recentes. O modo de fazer história foi eminentemente patriótico, com grande afinidade para o período medieval, aonde teria ocorrido o advento das nacionalidades. Foi um tempo de enorme divulgação cultural e científica, onde se assiste à dilatação do público leitor, sendo que os historiadores foram também jornalistas e líderes de opinião, como Alexandre Herculano (1810-1877) ou Manuel Pinheiro Chagas (1842-1895), o qual interrompeu a carreira no posto de capitão, mas influenciou sobremaneira a sua escrita historiográfica com uma compleição militar.