O legado historiográfico e filológico de Lindley Cintra, embora posteriormente revisto e contestado, operava uma verdadeira mudança no conhecimento da cronística portuguesa. Não apenas pelo reconhecimento da existência de uma historiografia anterior aos cronistas do séc. XV e mesmo ao séc. XIV, mas também pela mudança que a sua abordagem pressupunha. Contudo, os frutos desta mudança não seriam visíveis no imediato em Portugal. Foi preciso esperar algumas décadas para que esse filão lograsse ser continuado e muitas das conclusões revistas ou contestadas (Amado, “The study of literary texts”, in The Historiography…, 2011, p. 88). Cintra continuará ao longo dessa década os estudos em torno daquela crónica e da sua autoria, estendendo a sua análise a textos como a Crónica de 1419 e aos domínios da linguística (área que pensava estudar quando abraçou o projeto de edição da Crónica de 1344). Outras investigações se sucedem com a mesma orientação filológica. Destacam-se particularmente as investigações do linguista e historiador Samuel Armistead (cujos textos serão publicados inicialmente na revista Romance Philology, fundada no final da década anterior), e as do já mencionado Diego Catalán, influenciado por Cintra, principalmente no que dizia respeito àquela que julgava ser a versão portuguesa da Crónica de España e às origens da historiografia portuguesa e castelhana (textos que publicará também naquela revista americana e que continuará no livro De Alfonso X al Conde de Barcelos…, 1962).
Essa era, no entanto, a menor parte da produção historiográfica. Com efeito, a década de 1950 será ainda dominada pela linha de estudos de Magalhães Basto, que vinha ainda dos anos 40 e cujo foco continuava a ser a Crónica de 1419 (investigações que reúne no volume Estudos, de 1959) e em parte por novas leituras de Fernão Lopes, para que contribuem nomes como Albin Beau, germanista da Universidade de Coimbra que estudará os aspetos literários, panegíricos e o «sentimento nacional» no cronista de Avis (reunidos nos Estudos publicados em 1959), António Brásio, que trabalha sobretudo aspetos historiográficos como a «crise nacional de 1385» e questões de autoria da cronística, ou ainda Mário Martins, cujas investigações incidirão maioritariamente no domínio da espiritualidade.