Paralelamente, a mobilização para a recuperação do passado medieval foi decorrendo ainda sob o signo das edições. Damião Peres, autor de uma História de Portugal cujo aspeto doutrinário é conhecido, destaca-se nesse período pelo carácter nacionalista e «patriótico» que imprime às suas notas preambulares das crónicas que edita. Esse traço é particularmente discernível na sua introdução à Crónica de D. Pedro (1932), embora o rigor da sua transcrição tenha já sido notado (Amado, “The study of literary texts”, 2011, p. 92), assim como a importância da lista de fontes documentais que fornece, facilitando o acesso à construção da narrativa. Alguns anos mais tarde Peter Russell, historiador ligado à Universidade de Oxford, trabalharia também as fontes daquele cronista num breve e importante estudo (As fontes de Fernão Lopes, 1941). Esse trabalho serviria ao então jovem académico para tomar contacto com as fontes portuguesas da Torre do Tombo e mais tarde produzir o livro The English Intervention in Spain and Portugal in the time of Edward III and Richard II (1955).
Por essa altura José de Bragança escreve uma introdução inflamada de orgulho nacional à Crónica da Guiné (1937), utilizando o manuscrito da Biblioteca Nacional de Paris, onde advoga ter sido o Infante D. Henrique o autor da «criação de um reino português do Algarve e de além-mar», orientado para a «descoberta das novas rotas marítimas, do comércio pacífico e da influência civilizadora» (Crónica de Guiné, 1937, p. XLIV). Justificava assim, através de uma retroprojeção anacrónica, aquele que se julgava ser o direito às colónias com argumentos que não estavam muito longe daqueles que Gilberto Freyre utilizaria, como que integrando a edição desse «monumento» no rol de comemorações que culminaria na «exposição do mundo português», em 1940. Também Costa Pimpão fará uma edição abreviada desse texto, que estuda continuamente, na coleção Clássicos Portugueses da Cássica Editora (1942), ao passo que Alfredo Pimenta editará aí no mesmo ano a Crónica da Tomada de Ceuta. Também Torquato de Sousa Soares, muito ativo nesses anos, procederá à edição abreviada na dita coleção de duas crónicas de Fernão Lopes, a Crónica de D. Pedro (1943) e a Crónica de D. Fernando (1945). À parte dessas edições de divulgação, de certo modo propagandísticas ou instrumentalizadas como tal, apenas Alois R. Nykl, arabista checo radicado nos Estados Unidos da América, procedia por esses anos a uma edição crítica, embora parcial, da Crónica de D. Afonso Henriques de Duarte Galvão (1942).