O interesse pela cronística não esmoreceu com o fim da Monarquia, mas também não ganhou um fulgor desmedido com a proclamação da República. Na verdade, são poucos os estudos anteriores aos anos 20 do séc. XX, período marcado por convulsões sociais associadas à mudança de regime, a entrada na Grande Guerra e ainda um surto epidémico que terão feito rarear as investigações. Entre as que conhecemos sobressai um interesse muito particular em Zurara, sobretudo nos do camonista Augusto Epifânio da Silva Dias, do belga Jules Mees e os de Francisco Esteves Pereira. Esteves Pereira produz, de resto, aquele que será o primeiro estudo sistemático sobre a Crónica do Condestabre (editada em 1911 por Joaquim Mendes dos Remédios) e ainda nesse ano publica a Crónica da Tomada de Ceuta, cujo estudo introdutório escreve seguindo o modelo anglo-saxónico de Prestage, que cita profusamente. Além disso, a edição é composta a partir do cotejamento dos vários manuscritos disponíveis, que são apresentados e estudados em profundidade, tal como fazia Anselmo Braancamp Freire na primeira parte da Crónica de D. João I, publicada em 1915 pelo Arquivo Histórico Português (ainda que fizesse uma utilização exclusiva dos manuscritos disponíveis na Torre do Tombo). Essa edição será depois recuperada em 1977, como veremos. O que é facto é que todas elas são publicadas com a chancela da Academia das Ciências, evidenciando por vezes um historicismo nacionalista e conservador. Também nas edições que José Joaquim Nunes faz da Crónica da Ordem dos Frades Menores (1918) e da Vida e milagres de Dona Isabel (1921), igualmente publicadas pela Academia, os seus estudos preliminares denotam a influência de uma historiografia que afinava por modelos mais arcaicos, não obstante o rigor metodológico da sua análise lexical.
A evolução dos estudos cronísticos em Portugal será, a partir das décadas de 20 e 30 do séc. XX, muito diferente daquilo que vimos assistindo até aqui. Ao longo da década de 1920 assiste-se à ressurgência de um sentimento nacionalista pontuado por um certo anticlericalismo republicano que rapidamente desapareceria para, já nos anos 30, dar lugar ao patriotismo comprometido com o Estado Novo. Talvez por isso uma parte da historiografia sobre a cronística tenha cultivado um nacionalismo cultural e historicista que alastrava também noutros domínios, procurando um essencialismo português que se julgava particularmente presente nas origens da nacionalidade e, por extensão, nos textos sobre a primeira dinastia. Ocorre ao mesmo tempo um afastamento progressivo e mútuo entre os estudos históricos e os estudos filológicos, possivelmente em virtude da profissionalização crescente destas áreas. Influenciado pela abordagem filológica dos irmãos Juan e Ramón Menéndez Pidal, José Leite de Vaconcelos trabalha sobre a Crónica do Mouro Rasis (1922), linha continuada por Lindley Cintra já na década de 50 e mais tarde por Diego Catalán, tendo sido ambos, como veremos, influenciados por aqueles investigadores e influenciando-se também mutuamente entre si.