O início da década de 1970, em que Portugal passava de um regime ditatorial à democracia, não alterava em muito a paisagem do decénio anterior, ainda que com um grande aumento do número de investigações. Se, após a revolução de 1974, o discurso dos historiadores ligados ao regime perdia o tom apologético dos «feitos nacionais» com a revolução de 1974, a verdade é que o tema dominante permanecia. Historiadores como Torquato de Sousa Soares, Joaquim Verísssimo Serrão ou Graça Rodrigues interrogam sobretudo a historiografia do séc. XV, tomando-a enquanto produto de um período específico e numa dimensão discursiva. Torquato Soares e Veríssimo Serrão chegarão mesmo a considerar essa produção cronística no capítulo da «historiografia» (Soares, “A historiografia portuguesa…”, 1977, pp. 67-86; Serrão, “Fernão Lopes…”, 1984, pp. 195-211), não no sentido de discurso verosímil sobre o passado, mas antes segundo a noção que mais tarde apresentará Bernard Guenée: a tentativa de fixar uma dada memória dos acontecimentos e das figuras, não obstante os constrangimentos ideológicos, políticos ou sociais da época. Essa não será, porém, a tendência dominante, olhando-se ainda a cronística como algo muito distante da historiografia. A conceção de uma História-ciência parecia ainda pairar sobre o intelecto dos historiadores.
Dentro da historiografia do séc. XV, Maria Lúcia Passos e Mário Martins ou José Hermano Saraiva continuarão a explorar temas de ordem diversa em Fernão Lopes, o autor que mais atenção continua a receber, analisando da tipologia do herói à componente bíblica e litúrgica dos seus textos. A literatura em torno daquele cronista continuaria a aumentar ao longo das décadas posteriores, seguindo os filões abertos e abrindo novos. Não será alheio a esse facto a publicação, em 1977, da Crónica de D. João I por Lindley Cintra, que recuperava para a primeira parte a edição de 1915 de Braancamp Freire e para a segunda a edição crítica preparada por William Entwistle cerca de cinquenta anos antes, facilitando doravante o acesso ao texto. Mais recentemente Teresa Amado procurou resolver os problemas que essa versão acusava, preparando uma edição crítica cujo primeiro volume foi dado a conhecer em 2018.