Ao longo desse hiato vão-se «desenterrando» certos «monumentos desconhecidos», como afirmará mais tarde Alexandre Herculano, «do pó das bibliotecas e dos archivos (…), que vem modificar completamente muitas opiniões historicas, corrigir outras, e confirmar definitivamente outras.» (Portugaliae..., 1856, vol. 1, fasc. 1, p. v). Muitos deles serão coligidos e publicados sob a forma de Memorias, ora de carácter mais geral, ora mais específico. Essa tendência entrava numa roda em movimento há já algum tempo, mas que girava em sentido análogo, apesar de algumas diferenças estruturais, e que se ia materializando em publicações como a Gallia christiana (1715-1725) ou a España Sagrada que Enrique Flórez começara a publicar a partir de 1747 e que seria continuada até ao séc. XIX. Tal como a generalidade dessas obras, as produzidas em Portugal limitar-se-ão, na maior parte das vezes, a editar o texto sem aparato crítico ou contextualização histórica. Ao mesmo tempo, e em circunstâncias semelhantes, reeditavam-se as crónicas quinhentistas e seiscentistas, como as de Duarte Nunes de Leão, evidenciando um interesse dos historiadores e editores pelos temas da cronística medieval e pós-medieval.
Também a Collecção de livros ineditos de historia portugueza, obra conduzida sob a égide da Academia das Ciências de Lisboa, embora obedecendo ao princípio iluminista da racionalidade, dispensará qualquer preâmbulo historiográfico ou cotejamento do texto, limitando-se a apontar as lacunas «irremediáveis». O conteúdo dos cinco volumes editados entre 1790 e 1824, onde se incluem algumas das crónicas de Rui de Pina, Gomes Eanes de Zurara, Fernão Lopes ou as Chronicas dos Senhores Reis de Portugal de Cristóvão Rodrigues Acenheiro (séc. XVI), era, por isso, tresladado pelo abade José Correia da Serra, o iluminista que fora um dos fundadores da Academia (1779), e Francisco Trigoso (membro da Academia e posteriormente Ministro e Conselheiro de Estado) tal como surgia nos manuscritos pretensamente originais e nos apógrafos, considerando a pequena diferença de palavras um «descuido quasi inevitavel dos diversos copistas» (Collecção de livros inéditos, 1816, vol. 4, p. XXXIV). Nas palavras introdutórias à coleção, o abade Correia da Serra afirmava que a edição dessa «baze unica da certeza da nossa Historia» tinha como objetivo divulgar os «factos incognitos» que, devidamente interrogados e criticados, mostrariam o passado através dos seus testemunhos para que melhor se pudesse «saber o que Portugal tem sido» (Collecção de livros inéditos…, 1790, vol. 1, pp. VIII-IX). A coleção, alvo de grandes críticas pelos positivistas do séc. XIX devido às alterações que introduzia na ortografia e leitura dos textos, parecia resumir melhor uma atitude ideológica de recuperação do passado do que metodológica.