É a muitos desses investigadores que Luís Filipe Lindley Cintra agradece no prefácio ao seu estudo da Crónica Geral de Espanha de 1344 (1951, pp. XIX-XX).Entre eles estão os nomes Hernâni Cidade, Vitorino Nemésio ou Harri Meier, que assinalará entre aqueles que mais o influenciaram. Outros menciona-os no corpo desse texto que fora a sua tese de doutoramento, iniciada em 1947. É nesse ano, já no pós-guerra, que um jovem Lindley Cintra chegava a Madrid para encontrar Ramón Menéndez Pidal na sua casa de Chamartín (então nos subúrbios da capital espanhola). Receberia orientação do filólogo espanhol até ao final de 1950, altura em que Cintra regressa a Portugal, mas a filiação na escola filológica de Pidal manter-se-ia, considerando-o sempre como seu mestre. Os estudos que aí leva a cabo culminarão na edição crítica da refundição de cerca de 1400 daquela crónica, cujo último volume sairá somente em 1990.
Essa empreitada conduzi-lo-á a uma análise criteriosa e a uma reapreciação da historiografia em língua portuguesa anterior ao séc. XV. Com efeito, as investigações a que procede levam Cintra a atribuir a obra a D. Pedro Afonso de Barcelos, filho ilegítimo de D. Dinis, mas igualmente a concluir que trabalhava com uma versão que não seria já o texto original daquele fidalgo, que se estaria a escrever em 1344, mas antes uma versão modificada algures no final da mesma centúria. De igual forma, explora a rede textual que os redatores haviam utilizado na urdidura daquelas obras, salientando a ligação desses textos à tradição historiográfica de Afonso X e à sua Estoria de España, mas também à tradição genealógica navarra do Liber Regum. Entre eles Cintra irá mostrar a existência de um conjunto de textos que teriam sido produzidos, traduzidos ou copiados no espaço de influência do galego-português nesse período e que teriam sido utilizados, manejados ou pelo menos conhecidos pelos redatores, tal como a IVª Crónica Breve de Santa Cruz de Coimbra (que Diego Catalán mostrará depois ser uma cópia abreviada da chamada Crónica de Portugal e Espanha de 1341-1342, tanto quanto se sabe perdida, mas referida por Acenheiro), a Crónica do Mouro Rasis (que Leite de Vasconcelos estudara em 1922, como vimos, e que terá sido traduzido para português a mandado de D. Dinis), ou o Livro de Linhagens,também ele da autoria de D. Pedro Afonso. Cintra pensava ainda ser impossível, à data e com os manuscritos disponíveis, empreender uma reconstituição do texto original, tarefa que será levada a cabo parcialmente pelo neto de Ramón Menéndez Pidal, Diego Catalán Menéndez Pidal (nome completo que raramente utilizará), no ano de 1970. A influência do empreendimento de Cintra era decisiva para levar a cabo essa edição, num curioso movimento do acaso.