Até lá proliferam estudos que repisam caminhos, por vezes antagónicos e comprometidos com o regime. Duarte Leite, António Dias Dinis, Henrique da Gama Barros ou Álvaro Costa Pimpão exploram detalhes por vezes infrutíferos acerca da data de composição da Crónica da Guiné e da origem do seu conteúdo, chegando alguns desses investigadores, incluindo o professor de Filosofia da Universidade de Coimbra Joaquim de Carvalho, a levantar a possibilidade de plágio por parte do cronista. Ao mesmo tempo, William J. Entwistle, da Universidade de Oxford, prepara uma edição da segunda parte da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes (1935), que só verá a luz do dia postumamente, em 1977, e que incluirá a tradução desse artigo como introdução. Costa Veiga, Rocha Madahil, Morais Sarmento ou Hernâni Cidade, por seu lado, discutem aspetos da cronística de Rui de Pina, Duarte Galvão e Fernão Lopes. As discussões desses autores, esparsas e de difícil rastreamento, incluíam temas como a autoria da Crónica do Condestabre (a que se juntava o britânico Aubrey Bell, autor de uma história crítica da literatura portuguesa); análises da prosa cronística (em que também participava Vitorino Nemésio); a origem épica da estória deAfonso Henriques na IVª Crónica Breve;ou ainda a antiguidade desse breve texto conservado na Biblioteca Municipal do Porto¸ que Costa Veiga datava de meados do séc. XIV (datação que é hoje aceite) numa altura em que este era considerado como posterior a Fernão Lopes, ou, como argumentava Alfredo Pimenta, cuja anterioridade ou posteridade em relação à Crónica de D. Afonso Henriques de Duarte Galvão (redigida em 1505) era impossível de determinar. A ideia de que se estava a servir a pátria desse modo, agenda nitidamente nacionalista e alinhada com a ideologia do regime, que atravessa muitos destes estudos (mas, note-se, que não os impede de chegar a algumas conclusões importantes), é declarada precisamente por Pimenta na introdução de Idade Média. Problemas e Soluções (Lisboa, 1946, p. XV): «Eu sirvo-a [à pátria] conforme posso: estudando e comunicando aos que me querem ler o resultado dos meus estudos».
Com a descoberta em Junho de 1942 de uma crónica quatrocentista dos cinco primeiros reis, Artur de Magalhães Basto e, pouco depois dele, Carlos da Silva Tarouca que fizera a descoberta de um manuscrito inédito daquela crónica que incluía os reinados de D. Dinis e D. Afonso IV, introduzia-se um fator de agitação na historiografia da época. A bibliografia sobre esse texto que ficaria conhecido como Crónica de 1419 cresceria rapidamente e originaria um volumoso e importante manancial de informação, focando, contudo, um tema relativamente comum: seriam aquelas as crónicas «perdidas» de Fernão Lopes? Essa questão alimentou muitas das investigações dos anos subsequentes, de que o próprio Magalhães Basto faria uma síntese alguns anos mais tarde (Estudos. Cronistas e Crónicas Antigas…, Coimbra, 1959, pp. 509-548), e depois dele Giuliano Macchi (1963). De facto, a tentativa de determinar a autoria desta crónica e a sua identificação como a primeira parte das Crónicas dos reis de Portugal de Fernão Lopes domina as preocupações dos investigadores ao longo de toda a década de 40 e ainda no decénio de 50, sem que resulte na realização de estudos globais e aprofundados sobre o texto em questão. Só em 2010 Filipe Alves Moreira, com a sua tese de doutoramento, (A Crónica de Portugal de 1419…, Lisboa, 2013) remediaria esse trabalho que foi sendo prometido por vários investigadores, mas sempre adiado.