Os mesmos atores continuarão a figurar no decénio seguinte com orientações muito semelhantes, mas aos quais se juntarão alguns historiadores que se voltam então para a cronística. É o caso de António Borges Coelho, que em 1966 procede à edição da Crónica do rei D. Duarte, de Rui de Pina, e que por essa altura havia já publicado Raízes da Expansão Portuguesa (1964) e A revolução de 1383 (1965), dois exemplos de desconstrução das teses dominantes de uma grandiosidade nacional apoiada nos cronistas de Avis e propagadas pelo regime de Salazar, o que levaria a que esse textos chegassem a ser proibidos e Borges Coelho interrogado. Com efeito, a cronística do séc. XV será ao longo de toda essa década e da seguinte a que mais atenção receberá dos investigadores, alguns dos quais com preocupações sociais que associavam ao autor da Crónica de D. João I e à relevância das multidões populares nesse texto. Não é por acaso que A revolução de 1383 recebe esse título: a leitura de Fernão Lopes é de revolta, de manifesto pela alteração do status quo numa autêntica «revolução burguesa nacional» (Coelho, A revolução…, 6ª ed. 2018, p. 127). Mesmo António José Saraiva, exilado em França desde 1960 para escapar ao regime e que vinha investigando a tradição épica de Afonso Henriques, ocupar-se-á também da divulgação dos textos de Fernão Lopes em «português moderno», da figura daquele cronista na coleção Os Grandes Portugueses, da Editora Arcádia (1960) e da sua cronística na História da literatura portuguesa (1ª ed. 1955) que escreve com Óscar Lopes. São dadas à estampa também nesses tempos as edições críticas da Crónica de D. Pedro (1966)e de D. Fernando (1975), empreendimento levado a cabo por Giuliano Macchi e, curiosamente, contemporâneo de uma outra reedição da crónica de D. Pedro I, de Damião Peres (1965).
Outras análises desse cronista, de Zurara e de Rui de Pina surgirão ao longo da década de 60 e 70, mostrando uma clara tendência dos estudos cronísticos em Portugal. Não obstante, outras vias se vão trilhando à margem desse tema comum. António Cruz, responsável pela Biblioteca Municipal do Porto, avança por essa altura com uma investigação acerca da ligação entre a cultura portuguesa e Santa Cruz de Coimbra (1964), obra que anuncia a edição a que procederá dos Anais, Crónicas e Memórias Avulsas de Santa Cruz de Coimbra (1968), onde se incluíam textos menos conhecidos como o Livro das Eras, exemplo da hibridização entre cronística e analística. Um ano antes, Fernando Peixoto da Fonseca (posteriormente responsável pela edição da Crónica Breve do Arquivo Nacional, em 1986, da Crónica da Fundação do Mosteiro de São Vicente, em 1995, ou das chamadas Crónicas Breves de Santa Cruz, em 2000) revia as crónicas inseridas por Herculano nos Portugaliae Monumenta Historica, exercício quase inicial de revisão de uma obra que ia sendo olhada ainda como inatacável. Como já referimos, em 1962, Diego Catalán continuava a linha de investigação aberta por Lindley Cintra e em 1970 publicaria a primeira parte daquele que seria o texto original da Crónica de 1344, trabalho que deixaria sempre incompleto, com um segundo volume que não chegou ao prelo.